O Presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) Márcio de Lima Leite apresentou hoje o balanço do setor automotivo em 2023 e as projeções para 2024. O ano foi marcado pela maior participação do mercado interno consumidor, estabilidade na produção e queda nas exportações.

“Nossa produção maior se deve ao crescimento expressivo do mercado interno que fundamentou nossa análise técnica”, avalia o executivo. A produção vai de 2,359 milhões de unidades neste ano para 2,470 milhões em 2024, prevê a Anfavea. O ano deverá fechar com 2,29 milhões de emplacamentos, alta de 8,8% sobre 2022, acima dos 6% projetados pela entidade.

Para Lima, o mercado local teve melhora importante principalmente em função da taxa de juros. “Tivemos no inicio do ano um custo de financiamento da ordem de 30% para o consumidor final. É impensável que se tenha um aumento nas vendas com esse custo de financiamento elevado. E o Brasil precisa do financiamento para alavancar as vendas ao consumidor”, cobrou o dirigente da Anfavea.

Locadoras

Para o executivo, percebe-se um aumento maior na venda de veículos para as locadoras porque muitos consumidores acabaram migrando para os aplicativos e outras formas de locação. “Mas o mercado está recuperando e naturalmente, com a redução na taxa de juros, haverá um crescimento”, acredita.

As locadoras foram responsáveis pela fatia de 1 milhão de veículos em 2019. Em 2023, na frota das locadoras, o número cresceu para 1,560 milhão unidades. “É um aumento expressivo de vendas para as locadoras. Boa parte disso são consumidores que passaram a ter o uso do veículo mas não tiveram a propriedade, então migraram para o mercado de locação”, explica.

Eletrificados

Em relação ao emplacamento de automóveis e comerciais leves com novas tecnologias de propulsão - híbridos e elétricos - houve também um aumento da participação deles nos resultados de 2023.

Se em 2020 eles representavam 19.700 unidades, em 2021 o número passou para 35 mil unidades.

Em 2022, foram 49,2 mil unidades sendo 40,8 mil híbridos e 8,4 mil elétricos.

Em 2023 já foram 88,8 mil unidades sendo 15,2 mil elétricos e 73,6 mil híbridos, uma alta de 80% e relação a 2022.

E em 2024, a projeção da Anfavea é de 142 mil unidades emplacadas sendo 24,1 mil elétricos e 117,9 mil híbridos, uma alta de 61% ante 2022.

BYD E GWM

Em relação à entrada das montadoras de carros elétricos - BYD e GWM - para a Anfavea, Márcio de Lima disse que a entidade representa fabricantes de veículos automotores.

“Tê-los dentro da Anfavea é questão de tempo. serão muito bem-vindas tem trazido tecnologia, qualidade importante, é natural que a casa seria deles também é apenas uma questão de tempo. A tradição na Anfavea é de (uma montadora) fazer parte só quando começa a produção no país, o que deve acontecer, no caso da GWM em meados de 2024 e BYD para final de 2024 ou início de 2025”, explica.

Importações e Argentina

Para 2024, o dirigente da Anfavea diz que há dois impactos importantes: “temos que aumentar nossas exportações e temos as importações. O Brasil importou neste ano 306 mil unidades, o que acaba prejudicando a indústria”, revelou.

Em relação à Argentina, Márcio disse que ela é um importante parceiro para o Brasil e continuará sendo para 2024.

“Tivemos um período da campanha eleitoral com algumas declarações o que é natural e hoje a gente percebe um diálogo muito maior e as coisas funcionando com mais suavidade e tranquilidade”, analisa.

Para ele, há uma complementaridade importante entre Brasil e Argentina. “É impensável ter uma postura de mudanças no Mercosul”, avalia.

“Se os modelos nacionais ainda tivessem a participação de 49% no mercado argentino, como há quatro anos, teríamos vendido 95 mil unidades a mais neste ano, já que houve crescimento daquele mercado. Porém, a fatia brasileira caiu para 27%”, avalia o dirigente.

Para 2024, a projeção da ANFAVEA é de exportações totais de 407 mil unidades, leve alta de 2% na comparação com 2023.

Mercado interno

Depois de um primeiro semestre aquém do esperado, houve um relevante aumento no ritmo de vendas de autoveículos a partir de agosto, atingindo média de 10,6 mil unidades/dia em novembro.

No segmento de pesados, os ônibus registraram alta de 18,8% no ano, devido à maior demanda por modelos de uso rodoviário. Já os caminhões, conforme o previsto, registraram queda de 15,2% após a antecipação de compras ocorrida em 2022, na esteira da nova fase de legislação de emissões que elevou os custos dos produtos.

Vendas em 2024

Para 2024, a Anfavea projeta vendas de 2,450 milhões de autoveículos, uma elevação de 5,8% sobre 2023. Na divisão por grandes segmentos, espera-se alta de 5,3% para automóveis e comerciais leves, e de 14,1% para veículos pesados.

Produção

Apesar do crescimento do mercado interno, a produção recuou 0,5% no ano, em função da queda nas exportações e do aumento relevante das importações. A estimativa é de uma produção acumulada de 2,359 milhões de autoveículos.

Para o próximo ano, a expectativa da ANFAVEA é para um crescimento de 4,7% nesse volume, o que representa 2,470 milhões de unidades produzidas.

O presidente da Anfavea Márcio de Lima Leite acredita que somente em 2026 o setor vai recuperar os níveis registrados antes da pandemia.

Exportações

Depois de um 2022 de forte crescimento, os embarques neste ano recuaram 17%, com 399 mil unidades.

Além do encolhimento no mercado doméstico de destinos como Chile e Colômbia, houve uma sensível perda de participação dos produtos brasileiros na Argentina, nosso principal parceiro comercial, a ponto de ele ser superado pelo México pela primeira vez na história.

Custo-Brasil

Márcio de Lima defende que para o Brasil manter a vocação exportadora é preciso trabalhar o Custo-Brasil.

“O Brasil exporta tributo e vai continuar exportando depois da reforma tributária. Tem o imposto de importação que ocorre na cadeia do setor, tem o imposto que incide sobre a folha de salários (que não muda com a reforma tributária). Não se trata apenas de questão de tecnologia mas do Custo-Brasil que atrapalha nossa competitividade. E os acordos são fundamentais. No acordo com a Colômbia, por exemplo, temos cotas. Outros players estão ganhando competitividade. então precisamos melhorar esses acordos”, defende o dirigente da Anfavea.

Autor

Dulce Bravo

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