Aposta no risco

O que não tem remédio remediado está. Para muitas situações, o ditado se aplica. Mas essa frase nunca deve ser usada para se referir à escassez de dinheiro. Afinal, sem ele faltam teto, comida, escola, remédios. Assim como o empresário tem a responsabilidade de entregar pontualmente os vencimentos de seus empregados, o ente público deve quitar suas obrigações para com o servidor.

A solução encontrada pelo governo de Minas – vender no mercado os créditos a que terá direito, no futuro, pela extração de nióbio – vem sendo muito criticada e enfrentou resistência na Assembleia Legislativa até sua aprovação, ocorrida ontem. O fato é que foi o único caminho encontrado para levar sossego ao funcionalismo: a promessa do Executivo é, de posse desse recurso, pagar o 13º salário e parar de parcelar os vencimentos mensais, pelo menos até o meio do ano que vem.

Não é o ideal. É como o trabalhador antecipar, em um banco, seu 13º logo no início do ano e, quando chegar o Natal, não ter dinheiro para ceia, presentes ou pagamento dos impostos. Mas é o que foi possível fazer para acabar, ainda que de modo paliativo, com a angústia do servidor que, mês após mês, não sabia se ou quando teria dinheiro na conta para saldar suas dívidas.

A estratégia de antecipação de recebíveis, embora pouco utilizada pelas administrações públicas, é amplamente adotada por empresas que precisam de capital de giro e recorrem, para isso, a instituições financeiras tradicionais ou fintechs. 

Por mais que seja uma operação imediatista, que tapa o buraco sem refazer a base do pavimento, não faz sentido torcer para que dê errado. Do sucesso dessa ousadia dependem os cerca de 640 mil funcionários públicos ativos e inativos do Estado. Ainda que, no longo prazo, a incerteza continue pairando sobre as contas de Minas, o servidor pode ter uma apreensão a menos.