Atraso digital

Um dos legados da pandemia é a digitalização da educação, e, seguramente, 2021 será o ano do ensino híbrido, com a permanência dos recursos pedagógicos online ao lado de um progressivo retorno às aulas presenciais. Mas o salto para esse futuro tem um obstáculo: a universalização da internet.

Pode parecer um contrassenso em um país onde há mais de 234 milhões de smartphones – teoricamente, um por habitante – e 98% das pessoas acessam a internet por meio desses aparelhos móveis, em especial os jovens em idade escolar.

Mas é preciso olhar para a outra ponta dessa linha. Aquela na qual estão os responsáveis por educar. Uma pesquisa do Instituto Lemann mostra que 16% dos professores das escolas públicas não possuem conexões com velocidade e alcance necessários. Quase um terço dos docentes dessas instituições não possui qualquer tipo de acesso. Uma situação que é ainda pior no Nordeste do país, onde o índice passa de 35%.

Dados da Agência Nacional de Telecomunicações mostram que, até o fim do ano passado, quase 2.000 municípios brasileiros não tinham acesso a redes de fibra ótica, limitando a velocidade média de acesso à rede. Assim, apesar de sete em cada dez escolas públicas brasileiras terem computadores conectados, boa parte delas dispõe de serviços de telecomunicação de gerações anteriores que suportam apenas precariamente transmissões audiovisuais de qualidade.

Com a pandemia, os alunos mais pobres devem sofrer perdas de aprendizado de 50% a 87%, segundo a Rede de Pesquisa Solidária, e será preciso um esforço gigantesco do poder público para diminuir essa desigualdade. E um dos passos é fazer os mais de R$ 22 bilhões arrecadados pelo Fust chegar aos mais distantes cantos do país e, especialmente, às suas escolas.