No próximo dia 16 de outubro, a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro vai fazer oito meses sem que tenha rendido muitos resultados positivos. O maior triunfo foi a redução do roubo de cargas, o que veio atender especialmente o interesse dos empresários.

Doutro lado, o passivo da intervenção é incalculável, a crer na idoneidade de um relatório dado à publicidade agora, confeccionado pela Defensoria Pública do Estado e entidades de direitos humanos, com mais de 300 depoimentos de moradores de 15 comunidades. 

Segundo os autores, chacinas e homicídios obtêm maior visibilidade nos meios de comunicação, enquanto outras violações de direitos, como as praticadas contra as comunidades pelos agentes de segurança, não repercutem, apesar de serem graves e numerosas.

Os depoimentos, anônimos, foram colhidos ao longo do tempo que está durando a intervenção em visitas semanais feitas às comunidades. O mais tenebroso diz que os agentes “ficaram horas na casa, estupraram as meninas e espancaram os garotos”.

O relatório aponta as violações cometidas por militares e policiais em comunidades da Rocinha e Cidade de Deus e nos complexos da Maré e do Alemão. Invasão de casas, ameaças, agressões, roubos, proibição de filmagens e falta de identidade são algumas delas.

Dizem os moradores que, no início, os agentes eram cordiais e educados, mas que, depois, as boas maneiras foram substituídas pela brutalidade. O documento reconhece as limitações da atuação de policiais e militares e o sentimento de vulnerabilidade aos bandidos.

As violações eram sistemáticas, configurando desrespeito às normas vigentes, com a lei sendo aplicada de maneira desigual à população pobre e humilde das comunidades. Na falta de outro tipo de abordagem pelos órgãos de segurança, isso era previsível.

No Brasil, os agentes de segurança ainda não se livraram do preconceito de classe.