Choque na economia

As fortes pancadas de chuva na madrugada de terça-feira na região metropolitana trouxeram uma esperança de alívio para o calor – incomum para o inverno –, a crise hídrica e seus impactos sobre os bolsos dos brasileiros. Uma esperança que se esvaiu logo ao amanhecer, tanto com a escalada nos termômetros quanto com a previsão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de que a conta de luz poderá subir 16,7%, em média, no próximo ano.

O consumidor tem suado para dar conta dos crescentes reajustes das tarifas. No ano passado, quando os reservatórios ainda estavam cheios, elas subiram 9,1% – o dobro da inflação de 2020 – e devem fechar o ano 11,8% maiores – novamente acima do IPCA, que deve encerrar 2021 em 7,05%, segundo o Boletim Focus.

Turbinada pela bandeira tarifária vermelha de patamar 2, a mais alta de todas e que teve um reajuste de 52% há poucos meses, a conta de luz tem corroído os salários dos trabalhadores. Ela foi responsável por um terço da inflação de julho e, nesses sete meses, acumulou uma alta de 4,16% no país (na grande Belo Horizonte, foi ainda mais intensa: 4,99%). Isso, em um ano no qual o Banco Central estima que o rendimento médio do brasileiro vai encolher 1,3%.

Apesar de nunca ter sido consultado sobre como o dinheiro público deveria ser aplicado em uma matriz energética, que a passos lentos deixa de ser dependente de hidrelétricas, é o consumidor que paga o grosso da conta dos erros cometidos nessas decisões. É da conta de luz que se vão tirar os quase R$ 4,3 bilhões das medidas emergenciais decorrentes da crise hídrica.

Essa sangria está longe de ser uma solução, já que agrava a inflação e reduz o potencial de consumo. Um choque do qual o país dificilmente conseguirá se recuperar.