Existe “democracia plena” diante da profusão de fake news impulsionadas por robôs nas redes sociais? Esta é uma das questões que desafiam o Legislativo e o Judiciário brasileiros. Hoje, o Supremo Tribunal Federal deve julgar a validade do inquérito que apura divulgação de notícias falsas e ameaças a membros da Corte.

Segundo o levantamento Democracy Index, da Economist Intelligence Unity, de 167 países, somente 20 são considerados “democracias plenas”. Ele possuem instituições fortes, eleições livres e regulares e representação da sociedade organizada. Mas como considerar plenitude na Inglaterra, por exemplo, onde a votação sobre a saída da União Europeia é um case sobre a interferência digital e de bombardeio de notícias enviesadas sobre o eleitorado?

O impacto das fake news não é um problema teórico. Ele atinge o cerne da representação da sociedade, uma das bases da democracia moderna. Os interesses legítimos do cidadão, que deveriam ditar a agenda dos Três Poderes, acabam sendo abafados pela falsa impressão de relevância de temas impulsionados artificialmente por bots em redes sociais. Marco Aurélio Carvalho, marqueteiro nas eleições presidenciais de 2018, chama o fenômeno de “sequestro da pauta política do país”.

Não é exagero. A Universidade do Sul da Califórnia estima que 15% da base de usuários do Twitter seja de bots. Isso significa 24 milhões de contas – duas vezes a população da cidade de São Paulo – disseminando informações tendenciosas ou erradas. Como uma comunidade agrícola do interior ou associação de pequenos empresários poderia sobrepor-se a isso na disputa por atenção do Legislativo a seus problemas reais? Não é exagero dizer que da resposta depende a integridade democrática do país.