Para cerca de 5 milhões de jovens brasileiros, este ano já seria de grande ansiedade devido ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Uma tensão que foi multiplicada exponencialmente pelas incertezas decorrentes da pandemia, pelos questionamentos jurídicos sobre a realização das provas neste ano e pelas dificuldades que o isolamento social acarreta na preparação dos estudantes.
Ao determinar a mudança no calendário da aplicação do Enem, a juíza Marisa Claudia Gonçalves Cucio, da Justiça Federal de São Paulo, afirmou que estudantes de escolas públicas e particulares competem em desvantagem mesmo nas edições regulares do exame e que, atualmente, não levar isso em conta é uma “afronta ao princípio da igualdade”.
Um levantamento do cientista de dados da Universidade de Brasília Leonardo Sales revelou, em janeiro deste ano, que fatores socioeconômicos, como renda, estrutura da escola e rede de ensino frequentada, têm um peso de 85% no resultado de quem presta o Enem. Para cada quatro jovens da classe média, um consegue ser bem-sucedido no exame, enquanto que somente um em cada 600 estudantes pobres consegue atingir o mesmo sucesso.
Hoje, uma tecnologia aprofunda esse fosso: o ensino a distância. Além de as escolas privadas terem sido mais rápidas, apenas um quarto dos lares brasileiros tem acesso a computador e internet. Em Minas, a Secretaria de Estado da Educação iniciou um programa de aulas remotas que mescla a tecnologia virtual e o conteúdo transmitido pela TV Minas, um esforço grandioso que, ainda assim, terá dificuldades de chegar a 700 mil estudantes de diversas séries.
Essas são situações que mostram a urgência de se transportar a educação brasileira para o século XXI e se eliminar o seu atual grau de desigualdade.