Líquido e certo

Um dos trunfos do governo Lula para inserir os brasileiros menos favorecidos na sociedade de consumo foi a facilitação do crédito, via instrumentos como o crédito consignado, bom para os trabalhadores, mas, principalmente, para os bancos.

A criação foi um sucesso, tanto que gerou uma disputa entre as instituições, a ponto de promover a especialização de algumas delas, que detiveram praticamente o monopólio na concessão desses créditos, negociados a juros mais vantajosos para o tomador.

Como se tratava de uma operação negociada também com o empregador, o risco de inadimplência é zero e não se extingue nem em caso de falecimento do tomador. Foi tão bom que inclusive impulsionou a economia, incrementando o consumo.

Agora, com base numa delação premiada, a sociedade toma conhecimento de que, em troca de um contrato de gerenciamento de crédito consignado em folha de servidores públicos, uma empresa pagava propina a funcionários do governo

O escândalo envolve o próprio ministro do Planejamento do governo Lula, Paulo Bernardo, além de vários servidores do seu ministério. A empresa cobrava dos trabalhadores três vezes mais pelo serviço e o sobrepreço era repartido entre os interessados.

O serviço custava alguns centavos que, multiplicados por milhares de pagamentos descontados em folha, renderam R$ 100 milhões entre 2010 e 2015. Na semana passada, o negócio veio à luz, colocando em foco de novo os governos petistas e seu partido.

Naturalmente, os envolvidos espernearam, sobretudo porque alguns foram presos, mas é impossível negar a evidência de que está sendo revelado, em detalhes, mais um esquema milionário de expropriação do Estado com finalidades políticas e pessoais.

Depois de tudo o que já foi apurado, é inútil protestar inocência.