Mortes evitáveis

No meio de uma catástrofe, uma tragédia menor, mas não menos dolorosa, ocorrida, como o rompimento da barragem de Brumadinho, em consequência do descaso e da irresponsabilidade dos homens com seus semelhantes.

Até a queda do avião com quase todo o time da Chapecoense, em 2016, o Brasil não tinha vivido tragédia maior no futebol. Pois agora há uma que se compara, senão pelo número de vítimas, pela dor com que se reveste.

Na última sexta-feira, um incêndio no CT do Flamengo, no Rio, matou dez atletas que lá dormiam, ferindo outros três. Eram adolescentes que punham toda a força em seus sonhos de se tornarem jogadores de futebol.

Estar no CT do Flamengo era um dos últimos degraus de uma escalada que os conduziria ao futebol profissional. Estar ali significava já ter passado por uma dura triagem que deixara milhares pelo caminho.

No entanto, o clube não os tratou como deveria. O lugar só estava autorizado a funcionar como estacionamento. Havia sido multado várias vezes e tinha sido lacrado. No entanto, o Flamengo o usava como dormitório.

Clube de maior receita do país, ele paga uma fábula de dinheiro a seus atletas profissionais. É um dos que mais investiu em estrutura nos últimos anos, e o centro de treinamento faz parte desse equipamento em implantação.

Instalações modernas estão prestes a serem inauguradas. No entanto, os meninos estavam alojados em acomodações precárias e perigosas, enquanto esperavam uma avaliação que decidiria seu futuro de atletas.

Os centros de treinamento são como fábricas de atletas, nas quais os clubes preparam seus futuros quadros, que chegam dos quatro cantos do país. Ali eles transformam esse capital humano em ativos comerciais.

O profissionalismo vem tomando o lugar da improvisação. No entanto, só ele não previne outras possibilidades, como a morte, sobretudo se falta o humanismo que deveria permear as relações entre os homens.