Mais de cem dias de tensão, incerteza e isolamento não se passam sem deixar marcas. O crescimento de 21% nas vendas de antidepressivos e 14% nas de tranquilizantes não deixa dúvidas. Segundo reportagem publicada em O TEMPO no dia 13 de julho, mais de 24 milhões de unidades de medicamentos contra a depressão e estabilizadores de humor foram comercializados no país entre abril e maio.

Esses números mostram mais do que o abatimento das pessoas diante de uma pandemia que insiste em se avolumar e surpreender. Trata-se de um risco adicional à saúde pública e um foco adicional de preocupação para as autoridades.

Segundo o relatório anual da American Association of Poison Center, dos Estados Unidos, antidepressivos, sedativos e antipsicóticos representam um em cada dez casos de intoxicações. E o consumo desses tipos de medicamentos cresceu de 7% a 9% ao ano na última década.

De acordo com o relatório mais recente disponibilizado no site do Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas, 32.311 pessoas foram vítimas de intoxicação por medicação no Brasil em 2016. Se o índice de 10% levantado pelo centro norte-americano fosse aplicado à estatística nacional, 3.200 dessas pessoas teriam adoecido por causa de antidepressivos e ansiolíticos.

Há uma dupla responsabilidade do poder público nessa questão: primeiro, a de combater o risco sanitário que a explosão de consumo desse tipo de drogas pode acarretar na rede de atendimento em um momento em que ela está focada no combate ao coronavírus. Depois, e não menos importante, oferecer informações claras, objetivas e coerentes à população, tanto no que se refere à pandemia quanto aos seus impactos sociais e econômicos e, assim, amenizar o mal-estar que tanto aflige a alma dos brasileiros.