As 238 mil crianças e adolescentes submetidos ao trabalho infantil em Minas Gerais são casos flagrantes de agressão aos direitos humanos.
Os números apresentados pela Superintendência Regional do Trabalho (SRT-MG) chamam atenção para uma tragédia que está presente na rotina das metrópoles, mas não causa a reflexão e a indignação devidas. Na capital mineira, são 11.947 meninos e meninas nessa situação, o que representa um aumento de 35% em comparação com 2019.
Essa mazela se manifesta do ambiente fechado de uma indústria clandestina aos semáforos da cidade, onde meninos e meninas vendem balas sob sol escaldante, chuva ou frio. Uma condição que fere o corpo e a alma e rouba o futuro das vítimas de trabalho infantil. Além disso, o trabalho usurpa o tempo que deveria ser dedicado à educação.
A distância da sala de aula aprofunda um fosso que já é colossal. Um estudo do Itaú Social sobre desigualdade educacional mostra que meninos e meninas de famílias de alta renda têm 7.120 horas de aprendizagem a mais que os de baixa renda. No caso das atividades de aprendizado extracurricular – exatamente aquelas afetadas pelo tempo que as crianças dedicam ao mal remunerado trabalho doméstico –, a diferença é de 1.038% em favor dos lares de renda mais alta.
As iniciativas de combate ao trabalho infantil existem mas merecem ser ampliadas. O foco deve ser o acolhimento às famílias das crianças e adolescentes, uma vez que o fator socioeconômico predomina entre as causas que levam os pequenos para essa condição degradante. De acordo com pesquisa Ipec/Unesco, a necessidade de ajudar no sustento da família foi o motivo de 48% dos 2 milhões de alunos que deixaram a escola em 2022.
Apesar de recuo na extrema pobreza, dados do IBGE apontam que ainda são 68 milhões de brasileiros nessa situação. A porta de saída só será possível com educação de qualidade e emprego formal.
O desenvolvimento tão necessário ao país deve ocorrer sem as digitais das crianças e adolescentes. Esse é um princípio inegociável.