A redução do número de casos de violência doméstica no período de isolamento social pode ser um sinal de esperança. Os dados revelados pela Polícia Civil nesta quarta-feira, dia 8, mostram que foram quase 2.000 ocorrências a menos em Minas Gerais do que no mesmo período do ano passado. Somente na capital, a queda foi de um quarto dos registros em relação a 2019.
Não se sabe, porém, se a existência de um perigo maior à vida de todos (a pandemia) é responsável por essa redução ou se está ocorrendo uma subnotificação devido ao medo ou à falta de comunicação, como alertou a delegada responsável pela divulgação dos dados em Minas.
Lugar que para muitos significa proteção – seja em dias normais, seja neste momento de pandemia –, a casa tem sido culturalmente um espaço de dominação sobre as mulheres, restritas, muitas vezes, às atividades domésticas e à satisfação do desejo masculino. E as medidas de isolamento social para evitar o contágio pela Covid-19 aumentaram o temor pela segurança delas.
Dados do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes, do Ministério da Saúde, mostram que sete em cada dez agressões contra mulheres ocorrem dentro de casa. De cada três ataques, um é praticado pelo companheiro da vítima; em um a cada cinco, o autor é um ex-cônjuge ou o ex-namorado; e, em um número que não pode ser desprezado, a violência é praticada por pais, padrastos, irmãos ou filhos.
Estarmos juntos nesta luta contra o coronavírus pode muito bem ser a oportunidade que precisávamos para olharmos uns nos olhos dos outros, admitir nossas falhas e deixar para trás séculos de objetificação e servidão de esposas, mães e filhas. Agora deve ser o momento de construirmos novas relações baseadas na solidariedade, na divisão das responsabilidades e no respeito à diferença e, acima de tudo, à vida.