Ponte Rio-Niterói, nove da manhã. Disparos de atiradores de elite põem fim a três horas e meia do sequestro de 37 passageiros de ônibus – que saíram todos ilesos.

Cada vida salva merece o aplauso da sociedade, e o trabalho dos policiais na operação deve e precisa ser reconhecido pelo poder público. Agora, usar o episódio como exemplo para o abate de pessoas que estejam portando fuzis nas ruas, como fez o governador do Rio, Wilson Witzel, exige cautela e reflexão profunda.

Snipers não são assassinos pagos. São profissionais qualificados que passam por anos de treinamento especializado para desenvolver, além da precisão do tiro, disciplina e discernimento. 

Policiais, como seres humanos, também estão sujeitos a falhas. Em 1990, a professora Adriana Caringi morreu ao ser atingida pelo disparo do atirador que atravessou o corpo do homem que a mantinha refém com uma arma na cabeça, em São Paulo. Em 2000, Geisa Firmo Gonçalves foi morta na ação para encerrar o sequestro do ônibus 174, no Rio, evento fartamente lembrado ontem.

Em casos como o da ponte Rio-Niterói, antes de apertarem o gatilho, snipers seguem um protocolo rigoroso, que envolve inteligência, exaustivas negociações, análise de riscos e uma rígida cadeia de comando com altos oficiais e especialistas que avaliam quando e, principalmente, se devem atirar.

A Constituição é clara quando afirma que não existe pena de morte no Brasil. E a aplicação dos vereditos exige o cumprimento de rito conduzido pelo Judiciário. A proposta de Witzel – que automatiza a decisão, descarta os protocolos de segurança e exclui o processo jurídico contra o acusado – acaba transferindo para os ombros desses policiais o encargo de juiz, só que a única sentença disponível é a capital.