Torcer pela paz

O futebol desperta algumas das mais profundas emoções no brasileiro, desde o amor incondicional que transcende gerações até a fúria desvairada – que nem sempre é uma reação de momento, mas uma ação deliberada e programada por uma minoria. Foi contra esta última que se voltou a operação do Ministério Público e da Polícia Civil de ontem contra integrantes de torcidas organizadas na capital e no interior do Estado.

A motivação imediata foram as cenas de barbárie e terror no jogo que selou o rebaixamento do Cruzeiro, quando cadeiras, TVs, banheiros foram depredados, e famílias com crianças se viram sitiadas pela violência. Pelo menos 32 pessoas foram atendidas no posto médico em meio aos confrontos dentro e fora do Mineirão.

Os detidos são acusados de crimes como lesão corporal, tentativa de homicídio, dano ao patrimônio, associação criminosa e tumulto, condutas que nunca deveriam estar associadas ao esporte, mas que ainda são assustadoramente comuns. Segundo estudo do sociólogo Maurício Murad, da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), foram pelo menos 160 registros de violência no Campeonato Brasileiro deste ano, algo em torno de quatro por rodada, incluindo os mais variados clubes do torneio.

Em 2003, o Estatuto do Torcedor inovou ao incluir medidas para garantir a segurança do espetáculo com punições e restrições aos infratores, mas, quando a emoção do futebol perde para a barbárie e o crime, é momento de o estatuto dar lugar ao Código Penal e à sua severidade.

Somente com respostas rigorosas do poder público para coibir essas práticas violentas se pode garantir que a voz das arquibancadas substitua os urros irracionais de batalha pelos cantos de amor ao futebol, essa tradição que une os brasileiros.