Na última terça (25), foram escolhidos os vencedores do Prêmio Multishow 2016. De um lado, a votação popular continua distribuindo prêmios para medalhões do pop como Ivete Sangalo, Wesley Safadão, Luan Santana etc. Do outro, o Superjúri, um corpo de jurados formado por jornalistas (esta que vos escreve inclusive) e outros profissionais da indústria musical, votou em artistas que estão saindo o underground para o (quase) mainstream, fazendo música de qualidade e com criatividade como há muito não se fazia no Brasil.

Entre as categorias mais disputadas escolhidas por este juri estava a de álbum do ano, que tinha como finalistas discos da Céu (Tropix), Elza Soares (A Mulher do Fim do Mundo) e do grupo BaianaSystem (Duas Cidades). Apesar do ótimo momento das duas cantoras (Céu se encontrando em seu disco mais maduro e Elza em potente e viceral disco de inéditas dedo-na-cara), quem ganhou foi o BaianaSystem, levando à audiência massificada da premiação a notícia de que nem só de axé music vive a Bahia.

Criado em 2009, o grupo é um fenômeno local. Ao mesmo tempo em que mantém tradições, como a estética do trio elétrico de Carnaval, traz em torno de si a aura dos sound systems jamaicanos. Duas Cidades é seu segundo disco e tem produção do paulistano Daniel Ganjaman (que já trabalhou com Criolo, Sabotagem entre outros). Seu som traz a cultura urbana da Bahia de hoje no front, dando um significado novo ao som da guitarra baiana, tão ligada aos trios elétricos. Como se trata de um sistema de som e não exatamente de uma banda, a formação varia para além de um formato fixo, de seus integrantes fundadores (Russo Passapusso, Roberto Barreto, SekoBass e Filipe Cartaxo) e isso traz sempre frescor e novidades. Além da música, há toda uma identidade visual marcante em torno do BaianaSystem, que fica nas mãos de Filipe Cartaxo, que é o integrante responsável pela arte gráfica, fotos e vídeos.

Ouça o disco Duas Cidades no Deezer:

Veja abaixo os vencedores escolhidos pelo Superjúri

Melhor Hit
Playsom - Baiana System

Versão do Ano
Chico Buarque Song - Céu

Melhor Clipe
Ai, Como Eu Me Iludo - O Terno

Música Boa Ao Vivo
Lá Vem o Brasil Descendo A Ladeira - Teresa Cristina, Pitty e Baby do Brasil

Disco - Melhor Gravação
Céu - Tropix

Disco - Melhor Capa
Mahmundi – Mahmundi

Clipe - Melhor Direção
Céu - Perfume do Invisível

Clipe - Melhor Fotografia
Céu - Perfume do Invisível

Revelação
Liniker e os Caramelows

Canção do Ano
Mulher da Vila Matilde - Elza Soares

Melhor Disco
Baiana System - Duas Cidades

DEEZER SOUNDS
Douglas Germano - Golpe de Vista
Por Yamin Muller

 

FOTO: DIVULGAÇÃO
Golpe de vista
Golpe de Vista

Douglas Germano é um sambista de verdade. Desde a juventude em que fez parte da bateria da tradicional escola Nenê de Vila Matilde até hoje tocando em despretensiosas rodas de bares paulistanos, o samba sempre fez parte de sua vida. Em 1991, o Fundo de Quintal gravou uma de suas composições ("Vida Alheia"), e entre 2008 e 2009 lançou dois álbuns com Kiko Dinucci: como Bando Afromacarrônico e Duo Moviola. Somente em 2011 soltou, sem alarde, seu maravilhoso primeiro disco solo, “Orí”,  por insistência dos amigos músicos e familiares, mesmo sem fazer nenhum show sequer de lançamento. Cinco anos depois recebemos “Golpe de Vista” de presente, com direito até a algumas apresentações ao vivo de Douglas e sua banda.

Seguindo o estilo clássico de crônica musicada tão conhecido do samba paulistano, são 12 faixas tiros curtos em que Germano desfila suas referências de candomblé, futebol e carnaval - três grandes blocos temáticos presentes em seus sambas desde sempre. “Golpe de vista” é um disco direto, com instrumentação minimalista, segundo o autor um disco de “violão e caixa de fósforo”. Não é só isso, claro, mas a percussão é sutil, o baixo é acústico e os sopros são pontuais e certeiros. O foco aqui é a música em sua forma mais natural. As letras que vão da dureza da condição humana às bençãos dos orixås, passando pela poesia e graça da cultura boleira - sempre tendo o samba como protagonista absoluto. Um disco que escancara nossa sorte de sermos brasileiros e podermos ser criados dentro do samba.

DEEZER INDICA: Anos 60 no Brasil