ELETRONIKA

Dois livros sobre a história de importantes DJs do país

Redação O Tempo

Por Claudia Assef
Publicado em 07 de outubro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Já falei por aqui, em primeira mão, dos dois livros que lancei este ano: “Ondas Tropicais”, a biografia de Sonia Abreu, primeira DJ mulher do Brasil; e “Todo DJ Já Sambou”, meu livro escrito em 2003, que ganhou relançamento após uma campanha de financiamento coletivo, no final de setembro. Dois livros essenciais para quem quiser entender o desenrolar da noite e da música de pista no Brasil, modéstia à parte. Vou contar aqui um pouquinho sobre cada um.

“Ondas Tropicais” conta, em 200 páginas frenéticas, num ritmo de DJ set, a vida de Sonia Abreu, a primeira DJ deste país. No livro, eu e Alexandre de Melo mostramos as várias fases da vida da artista, que há 52 anos vem prestando serviços às pistas e ao rádio do Brasil.

Além de discotecar, Sonia já teve vários papéis na música. Aos 13 anos, colocou voz em um dos primeiros covers da Jovem Guarda. Aos 17, fazia a programação da rádio mais influente de São Paulo, a Excelsior, através da qual lançou a épica coleção de discos “A Máquina do Som”. Aos 25, lançava artistas que marcariam a música pop e a cena disco. Com uma dançarina e um robô cenográfico, lançou a moda das “intervenções performáticas” antes de os anos 80 começarem, com as apresentações da música “Automatic Lover”.

Aos 30, antecipando a febre dos sound systems, criou uma rádio ambulante e levou música a ruas, praças, palcos, coretos e praias, consagrando a marca Ondas Tropicais. Aos 40, com mais de 20 músicos, foi frontwoman da Banda do Quarto Mundo, uma das primeiras do Brasil a investir em world music.

Mesmo sem saber, Sonia já praticava o empoderamento feminino, muito antes de esse termo existir. Se hoje as mulheres pedem espaço na música, em movimentos diversos espalhados pelo Brasil e pelo mundo, imagina o quão complicado deve ter sido para uma mocinha de menos de 20 anos se firmar como DJ de boate em plena era das discotecas – quando mocinha de bem devia estar, no máximo, numa pista de dança. Como eu conto no livro, Sonia Abreu é a mãe da porra toda. Tá aí uma mulher que não conhece o significado da palavra impossível. Tanto ela fez que foi abrindo picadas num mercado dominado por homens. O livro mostra a força dessa mulher. Mais do que uma biografia, o livro traz lições de vida.

Para falar do “Todo DJ Já Sambou”, esse livro que virou meu xodó, pego emprestadas algumas palavras do meu amigo Camilo Rocha, que escreveu o texto da contracapa do livro. Então, vamos às gentis palavras do Camilo.

“Quando a primeira edição do livro Todo DJ Já Sambou saiu, em 2003, eu e a Claudia nos encontrávamos em lugares como o Lov.e Club, à base de drinks e música alta. Em 2017, quase quinze anos depois, ainda apreciamos nossos drinks e caixas de som, mas nossos encontros podem bem ser num sábado de manhã, acompanhando nossas filhas no parque.

Na cena eletrônica e no mundo dos DJs, muita coisa também mudou nesses quase 15 anos. Na capa da primeira edição do livro, quem aparece é o Mau Mau, na histórica foto de Fabio Mergulhão que mostra o DJ tocando, já de manhã, no saudoso festival Skol Beats. Em 2017, o DJ mais conhecido do Brasil é o goiano Alok, que tem centenas de milhares de seguidores nas redes sociais e músicas estouradas das FMs aos streamings do mundo todo. Não à toa foi escolhido para ilustrar uma das quatro diferentes capas deste livro.

Esta nova edição do “Todo DJ Já Sambou” vem expandida e atualizada em várias frentes: tem Alok e Vintage Culture, outro blockbuster atual das pistas brasileiras; retrata a conquista de espaço das mulheres na discotecagem, com nomes como ANNA, que ocupa uma das capas; explica o novo e forte eixo das festas independentes de São Paulo, como Mamba Negra e Capslock; e conta sobre a reverberação da bass music, que colocou o DJ Zegon e seu projeto Tropkillaz como nomes internacionais.

Este livro continua tão necessário como há 15 anos. Um dos principais motivos é que a gente sempre precisa lembrar de onde veio tudo isso. Se hoje existe um Alok ou um L_cio é porque antes existiram o Mau Mau, o Marky (outro DJ que brilha numa das capas), o DJ Hum, o Ricardo Guedes, a Sonia Abreu, o Gregão e o seu Osvaldo Pereira (o primeiro DJ do Brasil, personagem revelado na primeira edição do “TDJS” e agora colocado, merecidamente, numa de suas capas). E ainda tem o viés educacional da obra. Literalmente: o livro é adotado como material didático em diversos cursos de DJ e produção de música eletrônica pelo Brasil. Com escrita deliciosa, “Todo DJ Já Sambou” voltou para comprovar que História também se constrói com BPMs. Capriche na trilha e boa leitura”.

Se é alguém como o Camilo quem está falando, então dá para confiar. O cara é uma das maiores autoridades em música dentro do Brasil. Se você estava buscando uma leitura pra se preparar pras férias de fim de ano, ficam aqui as minhas diquinhas e meu muito obrigada.


Agenda

O quê. “Todo DJ Já Sambou – A História do Disc-Jóquei no Brasil”, de Claudia Assef

Editora. Music Non Stop (310 páginas)

Quanto. R$ 44

O quê. “Ondas Tropicais – Biografia da Primeira DJ do Brasil: Sonia Abreu”

Editora. Matrix (200 páginas)

Quanto. R$ 39,90

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