Coluna Esportivamente

Dia Internacional da Mulher inspira luta feminina e dias de mais igualdade

Demos voz para três referências do esporte feminino de Minas Gerais, que falam sobre conquistas, direitos e metas a serem alcançadas pelas mulheres

Por Daniel Ottoni
Publicado em 08 de março de 2020 | 07:00
 
 
 
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A cada ano, o Dia Internacional da Mulher serve para representar a luta do público feminino em busca de uma maior igualdade e representação dentro da sociedade. A data inspira novas conquistas ao mesmo tempo em que tantas outras ainda estão pelo caminho. O esporte contribui para mostrar a capacidade feminina em modalidades que exigem do físico e da mente, deixando claro o potencial do público feminino em atuar em alto nível.

Com o reconhecimento ainda não sendo o ideal, elas fazem sua parte para que a plena igualdade apareça em breve. Apesar da evolução, uma longa trajetória ainda precisa ser desbravada. Convidamos três representantes do esporte feminino mineiro para falar sobre esta luta diária dentro e fora dos torneios e disputas. 

Patrícia Antunes, escaladora, integrante da seleção brasileira da modalidade, bi campeã brasileira de Boulder e Lead (2017 e 2019), campeã brasileira Overall 2017, octa campeã mineira, atleta destaque pela Secretaria do esporte de Minas Gerais em 2019

Muitas mulheres praticam a escalada nos dias de hoje. Você enfrentou algum tipo de resistência dentro da modalidade? No início, minha família não me apoiou tanto, apesar de sempre terem me incentivado à prática de qualquer esporte. Eles consideravam "perigoso", talvez por pensarem ser uma atividade de risco e pela mulher ser um sexo "frágil", achando que eu não teria condições físicas e psicológicas de enfrentar os desafios. Quanto ao cenário machista, a escalada ainda é um esporte majoritariamente masculino. Há 12 anos, quando comecei, ainda havia poucas mulheres. Mas isso tem mudado rapidamente e é uma grande vitória. 

Escalada é um esporte que precisa de atributos que muitos, em um primeiro momento, podem relacionar ao universo masculino. Esta modalidade é uma daquelas que tem uma força ainda maior para provar a capacidade da mulher por ser tão exigente? Eu acredito e tenho provas de que a escalada não escolhe gênero, idade e nem raça. É um esporte em que cada individuo se torna seu próprio adversário. É claro que você precisa treinar e ficar forte, mas dentro daquilo que você pode. É uma atividade muito abrangente e envolve o auto conhecimento como princípio. A partir daí, você evolui dentro do seu próprio espaço. Falando em competições, o nível é mais exigente, mas sempre com mulheres e homens competindo de forma separada. 

O que ainda precisa melhorar na sociedade para um mundo mais igual entre homens e mulheres? Falta cortar o cordão umbilical do machismo imposto desde os primórdios. Falta sororidade, pois entre nós existe ainda muito machismo. Falta cessar a ideia de que mulher é frágil, isso não pode e não deve existir, somos protagonistas de nossas próprias histórias, responsáveis por nossas vidas, decisões e escolhas e exigimos respeito, em todo e qualquer ambiente. 

Alice Hellen, integrante da seleção brasileira de ginástica de trampolim, medalha de bronze na disputa por equipes na etapa de Baku da Copa do Mundo, em 2019, 4º lugar na disputa por equipes no Mundial de 2019, em Tóquio, vice-campeã do Sul-Americano em 2019 (Paipa, Colômbia)

Ainda estamos longe do ideal quando falamos do reconhecimento e valor da mulher na sociedade? Acredito que cada vez mais as mulheres estão mostrando que têm direitos iguais aos homens. Mas, na minha opinião, estamos longe do ideal, não só dentro do esporte mas em toda sociedade. A primeira comparação que sempre fazemos é sobre salário, é grande a desigualdade entre homens e mulheres. Até mesmo no futebol, um dos esportes mais bem pagos no mundo. Marta e Neymar são exemplos claros de desigualdade salarial. A visibilidade para o público sobre o esporte também é bem diferente. A Copa do Mundo de futebol feminino, maior evento para a modalidade, assim como no masculino, teve sua primeira transmissão em rede nacional somente em 2019, já na sua 8ª edição, enquanto a seleção brasileira masculina tem todos os jogos transmitidos, seja em campeonato importantes ou amistosos.

Qual a importância do esporte neste caminho de evolução?  É através dele que muitas mulheres mostram sua força física, mental e psicológica para chegar nos lugares mais altos. Enfrentamos muitas barreiras pelo simples fato de ser mulher. O esporte conta hoje com um grande número de mulheres atuando em alto nível, dentro e fora do Brasil, que servem para mostrar a capacidade e potencial do universo feminino. 

Pra você, quais foram os maiores absurdos que a sociedade já teve de restrição da mulher e quais as maiores conquistas? Um dos maiores absurdos foi as mulheres não terem tido autorização para competir em eventos esportivos. Hoje isso mudou e boa parte das delegações mundo afora são formadas por mulheres. Todas já podem competir normalmente, sem nenhum tipo de restrição, podem usar a roupa que querem também. Ainda estamos criando respeito por isso e tentando se impor para que novas mudanças aconteçam. As coisas estão caminhando de forma favorável. 

Em relação às conquistas, chegamos a ver, no último ano, uma atleta perder patrocínio pelo simples fato de ter ficado grávida. Após o nascimento do filho, ela deu a volta por cima e ganhou torneio de nível internacional, calando a boca de muita gente. As coisas estão mudando. Acho que temos, como maior fenômeno e inspiração, a ginasta norte-americana Simone Biles. Ela representa que uma mulher pode conquistar o que quiser, ela é uma das maiores medalhistas mundiais e olímpicas do mundo. Acredito que ela seja um grande exemplo do que as mulheres podem fazer. 

Carol Gattaz, central do Itambé Minas, pentacampeã do Grand Prix com a seleção brasileira feminina de vôlei

Quais as maiores diferenças que você vê no espaço que a mulher tem hoje na sociedade, comparando com o período em que você começou sua carreira? Com certeza, com o passar dos anos, as mulheres se empoderaram e conquistaram um espaço maior na sociedade com direitos quase iguais dos homens. Ainda existe diferença, a gente sente isso por mais que se fale o contrário. Mas é bem menos do que antes. Existem mais mulheres ocupando altos cargos de poder, coisas que no passado não tinha.

Qual a importância do esporte neste caminho de evolução? No esporte, a gente sabe que ainda existe desigualdade de salários, mas isso também está diminuindo aos poucos. Não vemos muito treinadoras mulheres. O esporte tem uma importância muito grande para a mulher se empoderar mais e conquistar um lugar melhor na sociedade. O esporte dá várias oportunidades de crescimento em várias áreas sociais.

O que ainda precisa melhorar na sociedade para um mundo mais igual entre homens e mulheres? A luta vai continuar sempre. Acho que aos poucos, a gente vai conseguindo mais espaço no geral. Vamos continuar lutando pelos nossos direitos de igualdade.
 

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