Caminhos

Profissional com curso da UEFA aponta como futebol pode ajudar o vôlei

Empresário Edu Tega analisa digitalização como fundamental no meio esportivo atual; sua empresa foi responsável por aplicativo recente lançado pelo Atlético

Por Daniel Ottoni
Publicado em 07 de setembro de 2020 | 06:00
 
 
 
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Entre tantas referências reunidas no 1º Encontro Internacional promovido pela Federação Mineira de Vôlei (FMV), que termina neste dia 7 de setembro, uma presença chama atenção por ser especialista em outra modalidade.

O empresário Eduardo Tega foi convidado para participar do evento para apresentar caminhos de sucesso que o vôlei pode seguir tendo o futebol como inspiração. Ao mesmo tempo, ele indica situações em que o vôlei está à frente do esporte mais popular do mundo, podendo servir de exemplo para ações futuras. 

Em 2018, Tega completou seu mestrado em Governança no Esporte (MESGO) pela UEFA. No Centre de Droit et d'Économie du Sport (CDES de Limoges, França), defendeu a tese que propõe mecanismos de proteção para jovens atletas que sonham em se tornar jogadores de futebol e são expostos a riscos e violações de direitos durante o seu processo de desenvolvimento.

Toda a experiência em anos de contato com o futebol, aliada ao fascínio pela tecnologia, o motivou a criar a Sportheca, empresa que foi contratada recentemente pelo Atlético para criar aplicativo do clube. A ideia é realizar uma série de ações que facilitem a experiência digital de consumo da marca do clube junto à sua torcida não somente nos dias de jogos, aproximando os fãs do seu time do coração.

Apesar das diferenças de realidades entre futebol e vôlei, Tega sabe como o esporte regido pela FMV tem condição real de crescimento e engajamento, desde que ações bem planejadas sejam feitas para explorar o seu potencial. 


Confira a entrevista exclusiva de Edu Tega ao Super. FC

Qual será o tema da sua palestra?

O conteúdo será sobre como o vôlei pode se inspirar no futebol europeu para se desenvolver. Este mestrado que fiz foi oferecido a presidentes, diretores e secretários do ramo de futebol do Velho Continente, com intuito de desenvolver o currículo e realizar troca de experiência com outras modalidades, como o próprio vôlei. Muitos esportes costumam ter dores parecidas e problemas semelhantes a serem resolvidos. Isso pode inspirar mudanças positivas que são o tema central da palestra. A ideia é trazer contribuições e inovações no ramo da tecnologia aplicada à inteligência, passando pelo processo de digitalização, que foi acelerado com a pandemia. Sabemos que esse desafio pode contribuir com os processos de inovação do esporte e o vôlei pode ter um suporte dentro disso.

Quais ideias das suas atuações e experiências no futebol que podem ser aproveitadas pelo vôlei? Elas aparecem mais na parte da gestão?

O vôlei tem alguns problemas e desafios semelhantes ao futebol, seja quando falamos de clubes, seleções ou campeonatos. Existe uma competição pela atenção do torcedor, essa atenção se tornou uma moeda valiosa e o vôlei compete não só com o futebol como com plataformas de streamig como Netflix e Amazon Prime. O maior desafio é engajar o fã para ele se tornar mais próximo do conteúdo oferecido, trazendo sua paixão e a traduzindo em monetização. O vôlei pode aprender bastante com outros modelos já desenvolvidos, não só dentro do mundo do esporte. Os rivais, dentro deste contexto, não são somente outras modalidades. 

Como o vôlei pode diminuir esta distância para a realidade do futebol sem ter o mesmo investimento e estrutura?

Sabemos que o futebol é uma modalidade muito mais praticada, com uma forte cultura dentro do Brasil, quase uma monocultura. As estratégias de digitalização são fundamentais para federações e clubes trabalharem junto ao seu torcedor. Quem é fã de vôlei, apaixonado pela modalidade, tem interesse em consumir o esporte independentemente de um jogo estar ou não acontecendo. Hoje, todos temos um celular nas mãos, uma segunda tela que é acessada enquanto um jogo acontece na TV. É preciso explorar isso para buscar novas formas de engajamento. O vôlei gera um conteúdo valioso não só pelo que acontece nos jogos, mas pelas outras ofertas da modalidade. Existem os bastidores, que despertam grande atenção, histórias de ídolos e ex-jogadores, conquistas recentes e do passado, existe um arsenal de conteúdo. Algumas estratégias podem ser elaboradas junto aos ambientes 'gamificados' que permitem gerar conteúdo para o torcedor a qualquer momento, não somente durante as partidas. Já foi possível perceber, olhando para o futebol, que os clubes digitais são aqueles que conseguem engajar seu torcedor e monetizar a partir desta relação. É uma decisão estratégica e fundamental para se ganhar novos adeptos e atenção nesta indústria do entretenimento. 

Quais exemplos do vôlei que podem servir de exemplo para o futebol?

O vôlei tem uma grande vantagem em relação ao futebol que foi adotar, há anos, estatísticas para análise de desempenho e do jogo coletivo. Esta base analítica de informações traduz uma melhor performance, fazendo da coleta de informações uma ferramenta para se orientar e jogar melhor. Essa cultura de olhar para dados foi colocada em prática antes do futebol, que somente nos últimos anos se movimenta para analisar desempenho e existem uma gama de profissionais que dão suporte às comissões técnicas. Este movimento do vôlei veio de esportes coletivos dos Estados Unidos e foi uma importante contribuição para gerações vencedoras da modalidade entre homens e mulheres. O vôlei tem muito a ensinar, é uma modalidade pioneira em algumas questões e coloca, em prática, de maneira mais fácil, algumas das inovações, como treinamentos individuais e coletivos. Temos á disposição várias tecnologias para melhor performance dos atletas, que são treinados para desenvolver uma série de repertórios de saque, ataque, bloqueio e defesa, por exemplo, durante treinos e partidas. Outro ponto que podemos explorar é a tecnologia do desafio, que veio do tênis. É uma realidade que ainda estamos nos acostumando no futebol por meio do VAR. É, até mesmo, uma forma de entretenimento. No futebol, ainda gera alguma desconfiança, alguns preferem o modo antigo. A tecnologia é um meio que chegou atrasado no futebol, muitas barreiras foram colocadas para se chegar ao que temos hoje. O vôlei já fez isso um fator de entretenimento, a torcida vibra quando o desafio aparece. 

Essa estratégia do aplicativo usado pelo Atlético também cabe no vôlei? Teríamos público e envolvimento suficiente para ter retorno como acontece no futebol? 

São modalidades com públicos e tamanhos diferentes, assim como suas formas de engajamento. Mas, no fim das contas, estaremos disputando a atenção do torcedor, em busca de entretenimento, com plataformas de streaming. Hoje está difícil tirar a molecada do quarto para fazer alguma atividade externa e se interessar por algum esporte. Estamos inseridos em um contexto de entretenimento, a atenção é uma moeda valiosa. Sabendo disso, o engajamento digital é fundamental para atrair este torcedor, precisando criar estratégias neste universo, que está em sua mão, para ele consumir e se interessar pelo vôlei. Este universo não pode ser descartado. 

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