Cada um na sua

Torcedor de futebol precisa saber seu papel e lugar na hora de protestar

Insultos em momentos particulares e na porta de residência de profissionais dos clubes passam de qualquer limite

Por Daniel Ottoni
Publicado em 13 de setembro de 2019 | 10:20
 
 
 
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A fundamental importância do torcedor de cada clube brasileiro não significa que limites podem ser ultrapassados. Nas últimas semanas, viralizou vídeo do meia Bruno Henrique sendo abordado e sofrendo insultos durante passeio com sua esposa em uma rua de São Paulo. A postura da moça foi louvável, conseguindo travar uma discussão sem baixar o nível e colocando o torcedor no seu devido lugar, coisa que nem sempre acontece. Os clubes têm parcela de culpa para a realidade atual. 

Não foi a primeira vez que tal fato aconteceu, nem creio que será a última. Já vimos situações piores com membros de torcida organizada dentro do CT em conversas não muito amigáveis com alguns dos principais jogadores dos seus times. Não bastando os clubes ajudarem a financiar tais organizações - o que não concordo -, foi dado aos membros das torcidas um espaço que não tem cabimento. 

Lugar de torcedor é na arquibancada! Ou na rua, desde que consigam agir de forma pacífica. Pagando ingresso (o que nem sempre acontece) e comparecendo aos jogos inloco, eles têm todo o direito de se manifestar, sem que realizem a façanha de prejudicar o time com gritos homofóbicos ou atirando objetos no gramado. 
Se querem protestar na porta de CT, que o façam de forma civilizada. Há poucas temporadas, o lateral-direito Marcos Rocha, então no Atlético, viu a 'recepção' que teve na porta do CT ser a gota d´água para sua saída do time alvinegro.

Torcedores inconformados foram protestar na porta do centro de treinamento e não bastando os insultos, amassaram o carro do jogador. É certo que tal situação não contribuiu para mudar resultado ou motivação do atleta dentro de campo. Pelo contrário. 

Os gestos recentes da torcida do Cruzeiro foram, em sua maioria, dentro dos conformes. Gritos, faixas e batuque na porta do CT, com provocação até mesmo com garrafas de cachaça. O limite fica perto de ser transposto no momento em que os carros dos atletas chegam no CT. Ali, pode acontecer uma 'simples' pressão ou ser a deixa para o caldo entornar de vez. Basta um gesto mais exaltado para que tudo saia do controle. 

Sem noção

O que parece ter virado prática corriqueira e fica longe de atitude aceitável é a presença da torcida na porta da residência de dirigente, técnico ou jogador. A falta de respeito atinge outros moradores, gente que não tem absolutamente nada a ver com a situação. Tem hora e lugar pra tudo, mas os torcedores parecem não se importar com isso. 

Desconfio que os torcedores envolvidos sabem bem que estão passando dos limites, mas mesmo assim insistem, talvez para 'marcar território' de uma forma mais agressiva. Por mais que na teoria, a ideia seja fazer pressão, na prática isso acontece de forma descabida por motivos óbvios. Fazer 'plantão' na porta da casa de quem defende seu clube não é a melhor forma de buscar uma mudança, pode acreditar. Isso só vai piorar a situação. 

É preciso que os torcedores, mesmo aqueles que não estão nestes protestos, saibam seu lugar e sua forma de se comportar, sob o risco de ver a fase ruim se deteriorar. Ao invés de ajudar, estarão contribuindo para levar o time para o buraco. Fico imaginando nos jogadores que sofrem tal tipo de pressão, como aconteceu com Bruno Henrique.

A chance de querer deixar o clube assim que for possível deve ser bem provável. Isso porque ele é um dos melhores jogadores do time, com boas chances da sua falta ser sentida em breve por quem não soube ter discernimento na hora de tentar fazer a sua parte. 
 

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