Na hora de se apresentar a alguém, quem é mais velho pergunta de quem você é filho. Interessa-se pela sua origem.
Já quem é mais jovem questiona onde você estudou. Preocupa-se com o seu destino.
A escola é tão fundamental em Minas (e, mais incisivamente, em Belo Horizonte) que ocupa um papel de sobrenome no imaginário social.
É um vínculo eterno, duradouro como a família.
Pela escola, cria-se uma proximidade de bairro, de geração, de temperamento.
É um GPS da intimidade, até para descobrir como o outro pensa, de onde é, se é gênio, nerd, largado, descolado, alternativo, conservador, revolucionário.
Não há em nenhum outro estado essa preocupação com o Ensino Fundamental e Médio. Uma prova é que, das 50 melhores escolas do Enem no país, oito são mineiras.
Estudar corresponde a levar a sério o futuro, símbolo de esforço e afinco, de que pertenceu a um ideário de conhecimento.
As escolas não são iguais em Minas, cada uma tem uma personalidade e um estilo definidos, os pais matriculam o filho sabendo o que vão encontrar. Não é jamais um tiro no escuro.
Diante de Santo Antônio, Bernoulli e Santo Agostinho, espera-se muito conteúdo e disciplina. As crianças e adolescentes terão que se puxar ao máximo. Elas nem passam de ano, sobrevivem.
Caso o objetivo seja um aprendizado de natureza construtivista, há opções como a Escola da Serra.
Na expectativa de um maior desenvolvimento de idiomas, surgem as alternativas bilíngues da Escola Americana e da Maple Bear (canadense).
Até porque a escola aqui não é um lugar de passagem fugaz, mas de raízes definitivas, a exemplo de um internato emocional, onde o aluno dedica a maior parte do seu calendário, com aulas nos sábados e também nos contraturnos.
Não há como não ficar apegado. As turmas têm um espírito de equipe para o resto da vida, com foto em escadaria imortalizada no porta-retratos e camisetas do ano no qual se formaram guardadas como relíquias.
Mantêm o elo indestrutível do sacrifício e da renúncia em comum. Carregam a sensação de batizado coletivo, de superação de adversidades lado a lado.
A experiência estudantil paira acima, inclusive, do período universitário. Não se interroga a um desconhecido qual universidade ele cursou. Isso não tem prioridade. Não traz conexão na hora. Encabeça o patrimônio impessoal da fase adulta, junto de onde trabalha e o que realiza.
A escola, por sua vez, carrega a base da nostalgia e da memória sentimental do mineiro, de uma época em que é mais aguçada a coragem de ser desafiado por provas e testes. Traz ainda amizades mais longevas, desinteressadas das posses e das aparências, dividindo classe e deveres, em que todo mundo é igual na caneta vermelha e na azul.
Quando duas pessoas se conhecem, ao perceberem que cursaram o mesmo colégio, tornam-se amigas de imediato, tentando descobrir se partilharam os professores e idênticas experiências. É um jogo infinito e divertido de forçar semelhanças e colher reflexos na sala de espelhos do passado.
“Você teve aula com Zezito?
Você teve aula com Felipe?
Você teve aula com a Dri?”
O ensino é uma máquina do tempo, uma mágica da cordialidade, de fazer acontecer sempre e de novo o que aconteceu antes.