FABRÍCIO CARPINEJAR

Onde você estudou?

“Quando duas pessoas se conhecem, ao perceberem que cursaram o mesmo colégio, tornam-se amigas de imediato, tentando descobrir se partilharam os professores e idênticas experiências.


Publicado em 24 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Na hora de se apresentar a alguém, quem é mais velho pergunta de quem você é filho. Interessa-se pela sua origem. 
 
Já quem é mais jovem questiona onde você estudou. Preocupa-se com o seu destino. 
 
A escola é tão fundamental em Minas (e, mais incisivamente, em Belo Horizonte) que ocupa um papel de sobrenome no imaginário social. 
 
É um vínculo eterno, duradouro como a família. 
Pela escola, cria-se uma proximidade de bairro, de geração, de temperamento. 
 
É um GPS da intimidade, até para descobrir como o outro pensa, de onde é, se é gênio, nerd, largado, descolado, alternativo, conservador, revolucionário. 
 
Não há em nenhum outro estado essa preocupação com o Ensino Fundamental e Médio. Uma prova é que, das 50 melhores escolas do Enem no país, oito são mineiras.
 
Estudar corresponde a levar a sério o futuro, símbolo de esforço e afinco, de que pertenceu a um ideário de conhecimento. 
 
As escolas não são iguais em Minas, cada uma tem uma personalidade e um estilo definidos, os pais matriculam o filho sabendo o que vão encontrar. Não é jamais um tiro no escuro. 
 
Diante de Santo Antônio, Bernoulli e Santo Agostinho, espera-se muito conteúdo e disciplina. As crianças e adolescentes terão que se puxar ao máximo. Elas nem passam de ano, sobrevivem. 
 
Caso o objetivo seja um aprendizado de natureza construtivista, há opções como a Escola da Serra.
 
Na expectativa de um maior desenvolvimento de idiomas, surgem as alternativas bilíngues da Escola Americana e da Maple Bear (canadense). 
 
Até porque a escola aqui não é um lugar de passagem fugaz, mas de raízes definitivas, a exemplo de um internato emocional, onde o aluno dedica a maior parte do seu calendário, com aulas nos sábados e também nos contraturnos. 
 
Não há como não ficar apegado. As turmas têm um espírito de equipe para o resto da vida, com foto em escadaria imortalizada no porta-retratos e camisetas do ano no qual se formaram guardadas como relíquias. 
Mantêm o elo indestrutível do sacrifício e da renúncia em comum. Carregam a sensação de batizado coletivo, de superação de adversidades lado a lado. 
 
A experiência estudantil paira acima, inclusive, do período universitário. Não se interroga a um desconhecido qual universidade ele cursou. Isso não tem prioridade. Não traz conexão na hora. Encabeça o patrimônio impessoal da fase adulta, junto de onde trabalha e o que realiza. 
 
A escola, por sua vez, carrega a base da nostalgia e da memória sentimental do mineiro, de uma época em que é mais aguçada a coragem de ser desafiado por provas e testes. Traz ainda amizades mais longevas, desinteressadas das posses e das aparências, dividindo classe e deveres, em que todo mundo é igual na caneta vermelha e na azul. 
 
Quando duas pessoas se conhecem, ao perceberem que cursaram o mesmo colégio, tornam-se amigas de imediato, tentando descobrir se partilharam os professores e idênticas experiências. É um jogo infinito e divertido de forçar semelhanças e colher reflexos na sala de espelhos do passado. 
 
“Você teve aula com Zezito?
 
Você teve aula com Felipe? 
 
Você teve aula com a Dri?”
 
O ensino é uma máquina do tempo, uma mágica da cordialidade, de fazer acontecer sempre e de novo o que aconteceu antes.

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