Patrícia Perdigão Pacheco Pires — paulista, paulistana, palmeirense, professora primária, pedagoga, profissões pouco prestigiadas, porém pautadas principalmente pela paixão pelo próximo, — passeava pela praça procurando pousada para permanecer por período pequeno. Passou pelo povoado, pela ponte, pelo parque, pela periferia porque pretendia pedir pista para pegar pensão perfeita. Pois pegou: portaria protegida, portão pesado, porteiro pontual, paredes pintadas, piso pronto, pouca poluição, pátio privativo pavimentado, pomar, plantação, piscina, pebolim, praia perto. Por praxe, preencheu papel, pechinchou, perguntou preço por pernoite. Preferiu pagar parcelado, precisava poupar, pois planejava partir para Porto, Portugal — privilégio para poucas pessoas.
Passou pela padaria para poder pegar pouquíssimos produtos para piquenique. Pegou pão, patê predileto, presunto, pêssego, pipoca. Pela porta principal, Patrícia percebeu pivete próximo. Por precaução, parou, pensou. Poderia procurar passagem paralela, pedir proteção, porém prosseguiu. Pivete — palavra pejorativa, problemática, polêmica, perigosa...
Paulo Paiva Pinheiro Passos — preto, pirralho prodígio passando pela puberdade, pimpolho prematuro, precoce, pessoa porreta, passiva, primogênito por parte paterna, pai pedreiro, presidiário — permaneceu pacientemente parado pelo passeio. Parecia paranoia, porém, perplexo, Paulo percebeu profundo preconceito — pior pesadelo para povo pobre.
Por piedade, Patrícia parou, pegou pão, partiu, partilhou, passou pedaço para Paulo.
— Pobre pivete — permaneceu pensando. Precipitadamente.
Paulinho parecia pensativo.
— Psiu, prazer! Patrícia, professora, pedagoga.
Por postura plausível, Paulo pediu palavra. Paulatinamente, pronunciou:
— Pareço pivete pelo padrão, pelo perfil, por pleno pretexto primitivo, por puro preconceito. Ponho perigo? — perguntou. Precisava parar pela porta para pensar? Percebi! Papelão, professora!
Praticamente paralisada, pasma, pálida, preocupada, Patrícia ponderou possíveis pormenores para pedir perdão.
— Pequei, Paulo! Páginas passadas.
— Parabéns, professora! Páginas passadas, palavras perdidas, porém pare para pensar. Promete?
— Prometo! Porei pedra para provar prudência.
Patrícia piscou para provocar. Paulinho primeiramente parabenizou para posteriormente prosseguir:
— Pessoas precisam promover pessoas, professora! Perder preconceito perante população paupérrima, passar pelos problemas, pelas perdas, pelos pontos prioritários. Processo penoso, precioso, particular, prática pessoal, porém perfeitamente possível. Pessoas precisam possuir paixão pelo próximo – princípio primordial, principal patrimônio. Pessoas precisam progredir. Principalmente.
* Fabricio Miguez é jornalista e professor especialista em Redação do Enem. Apresenta a coluna “Redação Nota Mil”, às terças e quintas, no programa “Bom Dia Super”, da Rádio Super 91.7 FM