Que bicho-papão é essa tal de redação?

Você não precisa ser bom de matemática pra saber que 30:4 = 1000 não é uma divisão correta. Agora, pra quem é craque em redação, essa conta faz abrir um sorrisão de A a Z. 

A equação é muito elementar, meu caro Watson: um excelente texto dissertativo-argumentativo com 30 linhas, dividido em 4 parágrafos bem estruturados, leva você à nota 1000 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Como vovó sempre dizia, “quem avisa amigo é”: esse bicho-papão não morde nem arranca pedaço, mas pode tirar o seu sonho de estudar em uma universidade pública federal – onde se faz ciência, e não balbúrdia –, diga-se de passagem.

A redação do Enem – o que, pra mim, já se configura como um gênero textual – é uma das cinco provas aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Basta fazer um simples cálculo pra perceber o impacto dessa nota na média geral da pontuação do candidato. 

Portanto – mecanismo de coesão que indica “conclusão” –, é importante, a partir de agora, entender os limites estruturais desse ex-bicho-papão:

1º parágrafo: contextualização e tese (8 linhas)
2º parágrafo: argumento nº 1 (7 linhas)
3º parágrafo: argumento nº 2 (7 linhas)
4º parágrafo: proposta de intervenção social (8 linhas)

Aí o advogado do diabo pode sussurrar no seu ouvido: “Cara, quem disse que tem que ser dessa forma? Vai lá e pergunta isso pra ele.”. Eis que eu respondo com o meu velho companheiro “Filtro solar”, na voz do Bial, em alto e bom tom: “Já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante”. 

Se você confiar em mim e quiser conhecer o tanto que errei pra poder chegar até aqui, a gente acerta isso no próximo sábado.

* Fabricio Miguez é jornalista e professor especialista em Redação do Enem
Apresenta a coluna “Redação Nota Mil”, às terças e quintas, no programa “Bom Dia Super”, da Rádio Super 91.7 FM