Fernando Fabbrini

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Fernando Fabbrini escreve todas as quintas-feiras no Portal O Tempo

OPINIÃIO

Ativismo juvenil

Estudar ou só militar: eis a questão

Por Fernando Fabbrini
Publicado em 23 de maio de 2024 | 03:00 - Atualizado em 23 de maio de 2024 | 10:21
 
 
 

Sou um dos fiéis seguidores de Greta Thunberg. Não porque a admiro, mas porque a mocinha sueca é o retrato perfeito do ativismo midiático e inútil que tomou conta de uma geração inteira; amostra confiável de tudo aquilo que ilude as cabeças juvenis de hoje. Adolescência é assim mesmo; período de revoltas e idealismos confusos. Depois, passa. Mas é a fase de definições dramáticas do ser humano; o momento de escolher caminhos. Caso fosse possível, teria o prazer paternal de assentar-me com ela à sombra de um carvalho nórdico secular, onde bateríamos um papo-cabeça proveitoso – e depressa, já que Greta foi presa novamente num protesto.

A educação nos países nórdicos é modelo mundial de qualidade. Greta, portadora da Síndrome de Asperger, conta com meios para se tornar uma brilhante cientista de novas fontes de nutrição, energia, bioengenharias do futuro, apesar de tal condição. Seu sonho - ao contrário do que afirmou, chorosa - não foi destruído, diferente dos pesadelos de milhões de crianças de países miseráveis que morrem de fome e de doenças há décadas, sob o olhar complacente da ONU e das nações europeias que deles extraíram tudo.

Porém, seduzida pelos refletores, Greta optou pelo caminho mais fácil. Estudar envolve disciplina, privações e o anonimato dos bastidores. Já a militância precoce, não. Paparicos, aplausos, frases de efeito e amparo interesseiro dos bajuladores não faltarão. Caso continue nessa via, teremos amanhã uma senhora milionária e frustrada, falando de oceanos limpos e florestas preservadas quando não existir mais nenhuma. Ou, pior: uma profissional como Lisa Fithian, idosa de 63 anos, cuja especialidade é ensinar ricos universitários dos EUA a arrombarem janelas e portas, usarem spray de pimenta contra a polícia e a esconderem seus rostos com turbantes beduínos em meio a arroubos de antissemitismo.

O fato é que a saga de Greta tem perfil conveniente e oportuno. Pega-se um tema polêmico – meio ambiente, minorias, defesa de animais – e criam-se ícones fugazes, sugando dele tudo, inclusive lucros. Slogans, discursos, gente gritando nas ruas fazem sucesso; passam a falsa impressão de que o mundo será perfeito já no dia seguinte, por um milagre, como se fosse fácil.

Também eu, nos tempos de escola, enchi o saco das aulas e passei a matá-las. Minha causa não era nobre: fugia da responsa navegando nas velhas barcas do Parque Municipal com alguns cúmplices vagabundos. Braços nos remos, impulsos metafóricos contra a estagnação das águas monótonas da puberdade, matávamos aulas descaradamente. Mais tarde notei, um tanto envergonhado, que minhas ausências decorriam de puro medo da matemática, da física, da química e, principalmente, medo de me tornar adulto e ganhar a vida sem chororó.

Então, Greta, baixe a bola e volte para a escola. Aproveite o privilégio de estudar numa nação como a Suécia. No Brasil – para o qual intelectuais estrangeiros inventam soluções fantásticas sem jamais terem vivido aqui - muitas Gretas se perdem por não terem sequer um caderno. Professores abandonam o magistério para não serem espancados. Graças ao desgoverno atual que, em proveito próprio, manipula o atraso e a enganação, estudantes batem recordes de ignorância nas matérias básicas e sonham serem ricos e famosos como a Anitta. A militância política tomou o lugar do conhecimento. Graduados chegarão às entrevistas de emprego – se tiverem sorte – sabendo apenas repetir slogans que ouviram nas assembleias. O Brasil afunda a olhos vistos – e não somente nas enchentes do sul.

Trabalhando como cientista, pesquisadora, engenheira, nutricionista ou algo assim, Greta Thunberg e seu entusiasmo poderão certamente melhorar o mundo. Se preferir o ativismo midiático e birrento, só vai dividi-lo ainda mais.

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