Parece que livros infantis, filmes e séries da TV andam reforçando a relação entre humanos e animais num modo fantasioso, ingênuo e temerário. Os bichos seriam sempre bonzinhos, inofensivos; apenas pets, objetos de afagos. Os aspectos selvagens e primitivos de suas vidas vão sendo claramente omitidos. Produtores de entretenimento “woke” insistem na construção de um mundo fictício onde só existam seres “do bem”; gentis, simpáticos e pacíficos.
Agora, fico sabendo de mais um caso absurdo envolvendo gente, bicho e modismos. Certa jovem – provavelmente de cabelo azul e admiradora de Greta Thunberg – decidiu impor ao seu cachorro uma rigorosa dieta vegana: só grãos, verduras e legumes.
Embora Aristóteles tenha tentado, coube ao brilhante sueco Carlos Lineu, pai da taxonomia, criar em 1735 o "Systema Naturae", base para a classificação dos seres vivos. Lá encontramos o melhor amigo do homem bem descrito. Reino: animal; filo: cordata; classe: mamífero; ordem: carnívoro; família: canídeo; gênero: cão. Seria suficiente para lembrar que cães, assim como gatos e felinos em geral, adoram se alimentar de carne – crua, sangrenta, assada, frita, cozida, quente ou fria, colocada no prato ou obtida na caça quando livres no ambiente selvagem.
Segundo um amigo veterinário, cães precisam de proteínas, aminoácidos essenciais, ácidos graxos, vitaminas e minerais que são encontrados... onde? Na carne, com certeza. As rações tradicionais contêm carnes (frango, boi, peixe), vísceras, farinhas de carne, de ossos e de aves. Mas já existem rações “veganas” para cães, misturas bastante suplementadas com ingredientes sintéticos, vitaminas e sabe-se lá o quê para atender a um segmento minúsculo do mercado.
Qualquer humano perceberá a diferença do apetite de seu cão ou gato se, em vez da ração convencional - que também alimenta, claro - oferecer a ele uma porção de músculos ou vísceras. Os animais carnívoros fazem parte da grande Ordem Universal desde o primeiro sinal de vida no planeta. Tentar “cancelá-los” – gíria da moda – não passa de tentativa infantil e arrogante de querer mudar as configurações originais desse mundo velho e sábio.
Vale lembrar aqui o episódio de uma intervenção humana desastrada no Parque Yellowstone, nos EUA. Ali viviam centenas de lobos – carnívoros, né? - bem integrados à região. Um burocrata idiota, sob pretexto de “adequar o meio ambiente ao turismo” (lobos são “maus”, dizia ele) decidiu “suprimir” – eufemismo delicado – as matilhas. Coisas estranhas sucederam. O número de alces e outros cervídeos cresceu e a cobertura verde ficou escassa, quase desértica. A flora reduzida fez sumir esquilos, aves, passarinhos, flores, frutas. Até alguns rios tornaram-se instáveis nos seus cursos e volumes.
Constatado o problema, alguém sugeriu o óbvio: faltava o elemento “lobo” naquela cadeia alimentar. Voltaram com eles, ainda que em número reduzido, e o milagre se fez. Lobos caçaram, comeram cervos e a vegetação teve um alívio; floresceu e se reforçou. Com as novas árvores, voltaram os passarinhos, esquilos, micos, lagartos, insetos.
O mais impressionante aconteceu nos rios: das nascentes abrigadas pelo verde jorraram novamente águas fartas, cheias de peixes, sapos, castores, marrecos, lontras e outros bichos. Baseados no caso de Yellowstone, os cientistas Slobdkin, Hairnston e Smith aprofundaram-se no fenômeno e batizaram-no como “cascata trófica”, hoje um marco da moderna ecologia.
Ah, sim, voltando ao caso da moça: irritadíssima, ela brigou com a veterinária que foi contrária à dieta vegana proposta. A médica recomendara as rações tradicionais e, vez ou outra, até uns petiscos de carne, como agradinhos. Irredutível, a jovem manteve seu pobre cachorro refém do rigoroso e insosso cardápio verde radical – o mesmo dela. Resultado: o bichinho morreu em poucos meses. Causa: inanição. Fim da triste história.