Nos idos de 1990 tínhamos um programa sagrado no meio do ano: viajar até Oshkosh, em Wisconsin, EUA, para assistir ao maior encontro mundial da aviação civil – o EAA Air Show. Numa dessas idas, meu cunhado – o querido, saudoso comandante e engenheiro aeronáutico Fernando Almeida – fez a aquisição de um aparato revolucionário fabricado pela Garmin. O novo equipamento possibilitava o milagre de mostrar numa tela a posição das aeronaves baseada em satélites. Aquele caro e imenso trambolho, quase do tamanho de uma caixa de sapatos, reduziu-se hoje a um corriqueiro aplicativo que todos têm no celular, o GPS - Global Positioning System.

O sistema foi criado num projeto militar de 10 bilhões de dólares nos EUA na década de 1960 e completado em 1995. Ele envolve uma constelação de 24 satélites espalhados entre 6 planos orbitais a 20.200 km de altura e que circundam o planeta a cada 12 horas. Estações terrestres balizam os sinais calculando a posição e a hora naquele momento, com toda exatidão para fins militares. Já para uso civil – como nos celulares – o software contém um pequeno “erro” proposital para evitar que o GPS vire ferramenta de terroristas ou mal-intencionados.

O Brasil, assim como outros países, depende 100% desse sistema. E, caso ele seja desligado como sanção contra o atual regime – como dizem, uma das possibilidades à espera de uma assinatura de Trump – bye, bye, Brasil: o país inteiro simplesmente irá travar. Veja só o tamanho do desastre, explicado a mim por um especialista.

De imediato, todos os aviões perderiam navegação precisa, obrigando uso de radares e instrumentos analógicos – antiga opção muito longe da expertise dos atuais pilotos. Navios não poderiam mais alinhar rotas, atracação e posicionamento automático. No campo, mais confusão. Colheitadeiras, tratores e drones usam GPS para plantio, pulverização e colheita. Sem o sistema, a eficiência da agricultura despencaria, impactando diretamente exportações e alimentos. Em alto-mar, bloqueio das atividades nas plataformas petrolíferas. Nas cidades, a ausência do sistema derrubaria 4G, 5G, redes de fibra e até a TV.

Acessar uma conta bancária pelo celular também seria impossível. Bancos e bolsas de valores empregam GPS para sincronização de milissegundos (o chamado Timestamp). Isso afetaria o PIX, o TED, o SWIFT e outros sistemas de compensação. Aplicativos como Uber, Waze, iFood, etc., passariam a inoperantes ou imprecisos. Com isso, as empresas de entrega, rastreamento de cargas e sistemas de transporte ficariam cegas, totalmente sem localização em tempo real.

Deus nos livre! Viriam também apagões regionais ou nacionais, já que o GPS é essencial para a transmissão e distribuição de energia, de norte a sul. E como se não bastasse, sua falta atingiria em cheio as forças armadas, usuárias cativas do GPS para operações, treinamento, vigilância de fronteiras - toda a logística militar e de segurança.

Mas existem sistemas alternativos? – perguntei ao técnico. Sim, disse ele. A Europa tem o Galileo, a Rússia tem o Glonass, a China tem o BeiDou, a Índia tem o NavIC – porém, instáveis, limitados nas coberturas, muito inferiores ao GPS. Então, por que não um só nosso? – insisti. Ora, eu mesmo tinha a resposta: porque a roubalheira e a estupidez dos governantes não trouxeram o país para o século XXI. Para alguns deles continuamos em 1917, nas barricadas, nos atoleiros das ideologias arcaicas, das demagogias, do ódio político. Bilhões foram gastos com inutilidades e, principalmente, com a célebre e histórica corrupção nacional.

Portanto, cruzemos os dedos e voltemos os olhos aos céus – onde circulam os satélites e onde, quem sabe, Deus possa ouvir nossas preces e salvar-nos do caos.