Convivendo desde menino com aviões e pilotos, não escapei de mergulhar na fantástica e misteriosa saga de Amelia Earhart, famosa aviadora norte-americana dos anos 30. Pioneira da aviação, Amelia foi também defensora dos direitos femininos, abrindo as portas da profissão – ou dando asas – às mulheres de seu tempo. Sua história já rendeu um bom filme estrelado por Hilary Swank e com Richard Gere no papel de seu marido e incentivador.
Em 1932, Amelia decolou da costa leste americana pilotando um pequeno monomotor Lockheed Vega através do Atlântico, repetindo a aventura de Charles Lindbergh. O pouso de emergência na Irlanda foi providencial, já que o combustível estava praticamente zerado. Veio a fama, a fortuna, as atenções merecidas. Amiga da primeira-dama Eleanor Roosevelt, ambas demoliram alguns hábitos retrógados daquela época.
Após inúmeras proezas, Amelia preparou-se para sua maior ousadia: a da primeira mulher a dar volta ao mundo pela linha do Equador, acompanhada do copiloto e mecânico Fred Noonan. Um pequeno bimotor Lockheed Electra recebeu melhorias técnicas e vários tanques adicionais de gasolina na cabine para a etapa mais difícil – a arriscada travessia de um longo trecho do Pacífico. Estava prevista escala para reabastecimento na minúscula ilha Howland, no meio da rota. No entanto, ninguém soube afirmar o que ocorreu naquela nebulosa e confusa noite de 2 de julho de 1937.
Por anos a fio, foram encontrados sinais incertos do desaparecimento – como pedaços de alumínio, um caco de para-brisas e um rolimã, peças compatíveis com as do avião. Palpites e teorias malucas também pipocaram. Chegaram a dizer que Amelia e seu copiloto teriam sido presos e fuzilados por tropas japonesas, uma bobagem.
Em 2018, o assunto ganhou novo destaque e mais esperanças. O motivo foi uma simples foto, tirada por acaso, quando do naufrágio de um navio cargueiro no atol de Nikumaroro; porção deserta na imensidão do Pacífico – porém, próximo à ilha onde Amelia poderia ter pousado numa emergência. A fotografia mostrava um objeto semelhante a um trem de pouso. Com o patrocínio do National Geographic, um navio de pesquisas navegou ao atol. O grupo especializado revirou cada metro quadrado da areia, dessa vez com instrumentos modernos e alta tecnologia – mas tudo em vão. Serviu apenas para dar origem a nova suposição, sempre muito incerta.
Essa outra hipótese sugere que Amelia, temerosa, com pouco combustível e sob péssimas condições visuais, preferiu abortar a missão, retornar e improvisar o pouso em qualquer descampado do arquipélago. Em pane seca, optou por uma amerissagem no atol Nikumaroro. Intenção desesperada: boiar enquanto desse, aguardando socorro; mas a aeronave destroçou-se na tentativa. No escuro, sem comunicação, provavelmente feridos, ela e seu mecânico talvez encontraram um final terrível no oceano repleto de tubarões.
Agora, em 2025, Michael Carra, piloto e milionário, montou uma equipe e vasculhou certa região da Papua Nova Guiné – mata fechada e inóspita – com novas suspeitas. Isso porque em 1945 uma patrulha de soldados australianos encontrou soterrado numa ravina os restos de um motor similar ao do Electra. E assim a história de Amelia ganha mais uma vertente: talvez ela desistira mesmo da ilha Howland e tentara retornar ao aeroporto alternativo em Rabaul, na Nova Guiné, mas a gasolina acabou antes.
Certamente Amelia Earhart serviu de inspiração para a brasileira Ada Rogato, aviadora de muitos feitos na América do Sul nos anos 50 - incluindo a transposição dos Andes e da selva amazônica, pilotando sozinha monomotores, só com ajuda de bússola. Ficam os bons exemplos de coragem e determinação de duas mulheres que sonharam e voaram alto — em todos os sentidos.