O garoto Giotto di Bondone era mesmo um prodígio. Pastor, humilde, porém com muito jeito para o desenho, pegava toquinhos de carvão e rabiscava ovelhas e carneiros perfeitos, encantando os adultos. Seu pai exibiu alguns desenhos ao mestre fiorentino Cinni di Pepo que fez do menino seu aluno - e não se decepcionou.
 
Aliás, di Pepo surpreendeu-se ainda mais ao perceber que Giotto, ao contrário de outros artistas da época, retratava as figuras dos santos como homens comuns. Dia após dia seu estilo original se afirmava. Havia algo de mais belo, de mais humano naquelas representações de figuras divinas. Sem saber, Giotto entrava em sintonia com as bases de uma nova visão humanista do mundo, um dos fortes conceitos do Renascimento.
 
O jovem toscano Giotto também era um aprendiz brincalhão. Certa vez, durante uma folga de seu mestre, invadiu o ateliê deste e, rapidamente, pintou uma mosca sobre o nariz de um nobre ali retratado. Ficou tão perfeita a intervenção humorística que o professor, ao voltar, tentou espantar o inseto, abanando a tela seguidas vezes, até descobrir o logro. 
 
Giotto criou painéis, afrescos, mosaicos, crucifixos e inúmeras peças da arte sacra dos séculos XIII e XIV. Sua extensa, variada e inovadora obra dispensa maiores comentários. Ela está presente em igrejas italianas, principalmente nas de Florença, Pádua, Assis e Roma, e também no acervo de museus renomados. 
 
Alguns séculos depois arqueólogos descobriram na igreja de Santa Reparata uma ossada singular. Pelas dimensões e proporções, pertenciam a um homem de estatura muito baixa. Tudo indicava serem os restos de Giotto, falecido aos 70 anos e sepultado nessa mesma capela. Imagina-se que o artista, talvez compensando os limites naturais de seu corpo, desenhava sempre figuras altas, esbeltas. 
 
É ainda atribuída a ele uma pequena curiosidade que alcançou nossos dias. Em um de seus passeios pela galáxia o cometa de Halley riscou o céu do planeta Terra em 1301. Com pouco mais de 30 anos de idade, Giotto estava então no auge de sua carreira, trabalhando num mural de um presépio. Supõe-se que o evento tenha levado o artista a mais uma criação, pintando o cometa brilhante e sua cauda sobre a manjedoura onde dormia o pequeno Jesus. O fato é que a imagem do cometa no alto do presépio virou tradição nas pinturas de muitos artistas que se seguiram. E hoje não pode faltar nos presépios montados pelas famílias cristãs, iluminando o Menino, seus pais, os reis, pastores e bichos ao redor. 
Relembrando a pitoresca história desse mestre, desejo aos leitores da coluna um Natal luminoso como o brilho do cometa. Com os corações servindo-nos de guias, que venha um 2022 melhor, generoso e repleto de novos caminhos e esperanças.