Fiquei surpreso com a repercussão da crônica que publiquei na semana passada. Vejam só: bateu meu recorde pessoal de “curtidas”, comentários e compartilhamentos nas redes nesses quatro anos em que escrevo em O TEMPO.
É sinal de que muitos leitores estão atentos às contradições da Amazônia e ao complicado equilíbrio entre a necessidade de produzir alimentos e a preservação do meio ambiente – questão urgente e mundial; não só nossa.
São leitores escaldados em meio à atual bagunça de notícias, dados e bate-bocas. Haja senso crítico para filtrar as asneiras despejadas diariamente pela grande imprensa, tendenciosa e em pânico porque perdeu o monopólio da informação e, com ele, as verbas de publicidade. Bom também é relevar a histeria dos militantes digitais profissionais, agora sem financiamento público, bufando de ódio enquanto teclam contra tudo e qualquer coisa.
Dessa vez os incêndios de tempo seco no Brasil transformaram-se num delírio com direito a girafas incandescentes e unicórnios esturricados. No imaginário internacional politicamente correto materializou-se a fantasia de Bolsonaro & Bush, archotes nas mãos, tacando fogo na rainforest e gargalhando, cruéis. Amigos da Itália chegaram a me mandar mensagens aflitas, perguntando-me se eu estava a salvo do fogaréu que, visto de lá, devastava o país inteiro.
Rolaram micos, gafes memoráveis e baboseiras oportunistas, como a da cantora Anitta. Bronzeando-se no calor providencial da mídia, ela mostrou-se disposta a abrigar eventuais refugiados indígenas na sua mansão. Não é fofa?
Monsieur Macron ilustrou seu protesto com fotos de 2003. Mas as imagens da França atual sob seu comando assustam: ocupação muçulmana hostil; terrorismo; agressões contra ocidentais; protestos dos coletes amarelos e coletes verdes; o Brexit e outros pepinos. Tão preocupado Macron com a natureza que se esqueceu dos 193 testes nucleares realizados pela França na Polinésia, desastres que geraram uma radiação 500 vezes maior que o aceitável.
Os incêndios florestais durante as secas, acidentais ou criminosos, são recorrentes no planeta. Angola e Congo estão queimando igual ao Brasil. Aqui foram registrados ontem cerca de 70 mil focos. Em 2014, no governo Dilma, veio o recorde histórico: 140.907 focos contados pelo Inpe. Mesmo assim, em março do ano seguinte a rainha dos ventos e da semântica reduziu em 72% a verba de proteção à Amazônia – e ninguém deu um pio. Não é gozado?
Infelizmente, a Amazônia nunca recebeu cuidados à altura de sua importância sob os mais diversos governos. Desde “Mad Maria”, passando por Serra Pelada e Belmonte, aquelas latitudes contemplam negociatas, sistemática degradação do ambiente, bandidos se passando por santinhos e espertalhões fantasiados de índios, com cocares, SUVs e Apple Watches.
Há males que vêm para bem. O governo tomou uma sacudida, prometeu mais rigor no controle das queimadas. Enviou a Força Nacional, vai apertar o cerco, investigando o tal “dia do fogo” combinado via WhatsApp. Também graças ao episódio você, contribuinte, descobriu que sustenta milhares de ONGs fazendo sei lá o quê no meio do mato.
Existem organizações sérias e outras picaretas; é necessário averiguar logo as que dão bons frutos e as que são parasitas. E deixemos de lado este bordão “Amazônia, pulmão do mundo”. Quem prestou atenção nas aulas de ciências se lembra das algas marinhas, que dos oceanos jogam na atmosfera cerca de 55% de todo o oxigênio produzido no planeta. Florestas como a Amazônia – gulosas – consomem quase todo o oxigênio que produzem.
Que os problemas da Amazônia não sejam motivos para politicagens, para suspeitos chiliques midiáticos ou choradeiras dos que perderam a eleição – mas de união e solidariedade em torno de uma causa muito maior.