FERNANDO FABBRINI

Mais sujeira

Redação O Tempo


Publicado em 16 de novembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Então, a nossa querida Itália está fora da próxima Copa. A última vez que tal desastre aconteceu foi em 1958. Que vexame! A imprensa especializada deu destaque à decepção dos fanáticos torcedores da Azzurra e também calculou o tamanho do prejuízo. Só em direitos de transmissão de TV foram-se <SC128> 100 milhões – sem falar no efeito dominó da eliminação, na derrocada de patrocinadores e no cancelamento de contratos diversos.

No entanto, uma noticiazinha discreta no “Corriere della Sera” chamou minha atenção. Via-se a foto de um sujeito de terno e gravata, elegante, carregando um saco preto de lixo e ajuntando imundícies espalhadas pelo ambiente. Quem era? Ora: nada menos que Jan Andersson, o técnico da seleção sueca. Terminado o jogo no estádio San Siro, com a equipe nórdica classificada para a Rússia, o Jan resolveu dar uma geral no vestiário de sua turma antes de ir embora. Recolheu copos vazios, garrafinhas etecétera. E deixou tudo limpinho. Danados esses suecos, hein?

Daqui a pouco os leitores vão se aborrecer com a insistência deste cronista com a questão da sujeira – que tem me inspirado muito. Em colunas recentes, o assunto vem sendo abordado com frequência, e tenho aqui minhas razões. Paciência, prometo que esta será a última. Ou a penúltima, tá?

Não pensem que sou um obsessivo, um maníaco com TOC em último grau ou coisa assim. Sou apenas um cara ligeiramente implicante, acostumado a arrumar a cama toda manhã e jamais deixar uma pia suja para alguém lavar (mesmo porque, moro sozinho. E, como diz a piada, uma das desvantagens de se morar sozinho é que sempre é a sua vez de lavar a louça. Ou arrumar a cozinha. Ou varrer a casa). E por tudo isso virei o mais novo fã do treinador da Suécia.

Ontem pela manhã a TV entrevistou um membro da prefeitura (perdão, esqueci seu nome e cargo), e ele informou que está sendo deflagrada uma grande campanha para – em linhas gerais – coibir ainda mais a ação de gente porca. Partindo do princípio de que sacos de lixo não têm patas nem asas, conclui-se que os referidos são levados pelas mãos de pessoas.

Esses cidadãos consideram a rua – ou o chamado “espaço público” – terra de ninguém, casa da mãe Joana. Assim, despejam na calçada os dejetos domésticos sem nenhum pudor; a qualquer hora do dia ou da noite; pouco se lixando (ops!) se o caminhão da coleta já passou. Alguns indivíduos ainda fazem pior: para não dar bandeira, se dão ao trabalho de caminhar alguns passos para deixar o próprio descarte defronte à casa do vizinho.

A ação proposta pela PBH vai atacar também a colocação de material publicitário em postes e muros, com atenção especial para as faixas. Ah! As faixas! Surgem da noite para o dia atravessando a rua de um poste ao outro. São, geralmente, ofertas imobiliárias desesperadas, do tipo: “Oportunidade! Apartamento de 4 quartos /4 vagas / suíte / dependência – Preço padrão Minha Casa, Minha Vida – Ligue já!”

Na esperança de que alguém da PBH venha a ler esta coluna, aproveito para denunciar um descaso urbano de grandes proporções. Falo da rua Cícero Ferreira, dois quarteirões que unem a rua do Ouro à avenida do Contorno. Nessa rua existem um hotel executivo, várias clínicas médicas e ainda os fundos de um dos maiores hospitais da cidade.

Nos passeios matinais com nosso cachorro, transito pela rua diariamente. E me pergunto por que será que a SLU não passa lá também com regularidade. A quantidade de lixo na calçada e nas sarjetas é descomunal – incluindo, como já notei, sacos brancos que sugerem conter lixo hospitalar. O hotel executivo, as clínicas, o hospital e empresas do trecho parecem aceitar a lambança e convivem pacificamente com a porcaria exposta.

Já que estes não se manifestam, aproveito o meu TOC e este espaço para mandar o recado. (Numa de minhas primeiras crônicas aqui, em O TEMPO, denunciei um carro em estado de sucata abandonado na mesma rua há anos. Era um lixão a céu aberto que jazia naquele ponto impunemente. Tanto escrevi, tanto insisti que, um dia, levaram-no embora na calada da noite).

Ah, sim, vale lembrar: anda tão suja a rua Cícero Ferreira que meu cachorro Bruno se recusa a fazer cocô ali. Passa correndo, indignado, sem cheirar nenhuma árvore, tamanho nojo. É um cidadão consciente.

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