FERNANDO FABBRINI

Notícias do buraco

Melhorou, mas ainda ameaça


Publicado em 03 de março de 2021 | 12:40
 
 
 
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Em 2000, passei algumas semanas na Nova Zelândia visitando minha filha na cidade de Dunedin, na ilha do sul. Era verão e por isso não me espantei com a quantidade de óculos escuros, bonés e chapéus usados praticamente por todas as pessoas. Bastaram poucos dias para sentir minha pele ardendo esquisito – bem diferente do ardor causado pelo sol das praias brasileiras. Comentando sobre o assunto, fui repreendido pelos anfitriões por não usar filtro solar – muito, no corpo inteiro, diariamente e com o fator de proteção mais alto. Ué, precisava mesmo? Sim, afirmaram em coro, por conta do buraco na camada de ozônio logo ali perto, na Antártida. Daí, vencendo meu asco ancestral por cremes ou melecas variadas sobre a pele, lambuzava-me com a coisa antes de sair de casa. Melhorou um pouco. 

Localizada bem lá embaixo, a Nova Zelândia sofre bastante com os efeitos da radiação solar. Hoje no país há uma porção de instalações cientificas e gente especializada de olho nas alterações anuais do fenômeno. A boa notícia é que em 2020 o buraco encolheu um pouco. A redução das atividades industriais pela pandemia fez cair os níveis de substâncias químicas destruidoras da camada de ozônio controlados pelo Protocolo de Montreal. Isso impediu que o buraco fosse tão grande quanto teria sido sob as mesmas condições climáticas das décadas anteriores. 

A pisada no freio exigida pela explosão do vírus chinês trouxe outras notícias curiosas e até alentadoras. Não se pode atribuir os fatos seguintes apenas à pandemia, mas dá o que pensar. Por exemplo: dobrou o número de elefantes no Quênia. Num zoo da Polônia, nasceu um filhote de um rinoceronte exótico que estava quase extinto. Também no setor dos bichos, várias cidades inglesas derrubaram a lei que ainda impedia inquilinos terem cães, gatos ou outros mascotes em casa. E quem ficou em casa passou a ler mais, fazendo com que a venda de livros no mundo aumentasse pelo oitavo ano consecutivo.   

Reduzir emissões de carbono é um desafio urgente. Há centenas, milhares de pessoas, nos campos, florestas, oceanos, centros de pesquisas do mundo inteiro trabalhando na busca de soluções tecnológicas viáveis – e não se iludindo com delírios. Não é fácil. Aviões, trens, navios, automóveis, caminhões compõem a matriz atual de transporte de cargas e passageiros queimando combustíveis fósseis.  

Menos fumaça no ar é um avanço fantástico, como sucede no caso dos veículos elétricos. No entanto, se o foco é a emissão de carbono, os volumes emitidos na produção das baterias dos veículos, na extração e no processamento dos minerais que as compõem e nas linhas de montagem do setor automotivo são assustadores. Parece um jogo de varetas: devemos mexer aqui, mas sem derrubar lá; complicado mesmo.   

Na verdade, as questões ambientais e de sustentabilidade requerem mais tecnologia, mais inteligência, menos emoção e muita calma nessa hora. Falar mal sem cair na real não criará nada de novo, apenas sonhos verdes e fantasias multicoloridas para ocupar as manchetes por um ou dois dias – tais como os chiliques midiáticos de Greta Thunberg.   

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