No filme “O Mistério da Torre”, de 1951, o fleumático Sir Alec Guinness, no papel de um bancário, foge para uma certa “cidade maravilhosa” depois de roubar um carregamento de ouro. Logo depois James Mason, em “Cinco Dedos”, encarna um funcionário da embaixada britânica que vende segredos aos nazistas e planeja esconder-se no mesmo aprazível local.

Tony Curtis, engatado a Sidney Poitier no “Acorrentados” de Stanley Kramer, confessa que seu sonho é espichar-se nas areias de uma certa praia de nome Copacabana.

Tinha virado moda: escroques internacionais escolhiam o destino fantasioso com frequência. Em “O Grande Assalto”, a estonteante Kim Basinger sai da cadeia e, ao lado de seu antigo cúmplice Val Kilmer, trama um último golpe. Dá certo: fogem com milhões para um país de nome igual ao nosso – outra coincidência.

Em “Os Produtores”, refilmagem do “Primavera para Hitler”, de Mel Brooks, empresários de teatro falidos extorquem velhinhas carentes e conseguem 1 milhão de dólares para a montagem de um espetáculo. Dão o cano, tentam voar para uma cidade chamada Rio de Janeiro, mas são pegos antes.

O capeta é o melhor agente de viagens do cinema. Em “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto”, de Sidney Lumet, Philip Seymour Hoffman encarna um executivo drogado e enrolado que afana a joalheria da própria família e foge... adivinhem para onde? Em “Um Peixe Chamado Wanda”, a turma de Michael Palin e John Cleese planeja um roubo de milhões em joias seguido de férias felizes – de novo! – no sonhado país da impunidade.

Nossa! De onde será que roteiristas e diretores de cinema tiraram a ideia de eleger esse tal “Brasil” como destino favorito de bandidos?

Provavelmente pensaram numa dessas nações desqualificadas onde os juízes não estão nem aí pros clamores do povo que exige justiça igual para ricos ou pobres. Na verdade, estão lá para ganhar fortunas, retribuir favores dos padrinhos e comer lagostas nas horas vagas. Existem também alguns países onde um motorista bêbado, sem habilitação, em alta velocidade e na contramão, tromba e mata três. Como é rico, presta depoimento, paga fiança e corre pro abraço. Tudo dentro da lei.

Talvez o imaginário território favorito dos meliantes seja uma dessas republiquetas onde um sujeito engana milhões prometendo maravilhas e elege-se qualquer coisa. No cargo, especializa-se na modalidade “ataque sem tréguas aos cofres públicos”. Enriquece os amigos, os filhos dos amigos, a prole, a esposa, as amantes, a turma toda.

Descoberto, vai em cana. Porém, como ainda tem dinheiro roubado de sobra, banca advogados igualmente milionários para a defesa. Dura lex, sed látex. A lei é dura, mas dá pra esticar. Valorosos causídicos logo tiram o criminoso das grades.

Nossa! Por outro lado, países como os descritos devem ser terríveis para você que é apenas um trabalhador honesto. Já pensou viver num lugar assim, sabendo no que se transformou o dinheiro suado dos impostos?

Apartamentos de frente pro mar, sítios, terrenos, comissões sobre caças a jato, negociatas em refinarias e portos, joias e adegas repletas de preciosidades vinícolas?

Não é difícil deduzir por que no cinema os criminosos sempre recorrem aos biomas acolhedores desse país irreal nascido da criatividade dos roteiristas. Tudo indica que os bandidos buscam o sol, os prazeres tropicais e a distância das garras da lei. E talvez porque a justiça – aquela senhora madura, séria e implacável em outras latitudes – no tal Brasil fictício do cinema não passe de uma mocinha interesseira, leviana, de maus hábitos e sempre dando ouvidos às más companhias.