Amigos também já me confessaram: chega-se a uma idade em que nossos desejos para o novo ano reduzem-se a uma pequena lista de coisas impossíveis de serem compradas com dinheiro – e nessa turma entrei, faz tempo.
De maneira geral, o que a gente quer é uma vida mais digna, menos chatices, alegrias eventuais, saúde e paz para as pessoas que amamos, familiares, amigos. No usual balanço dos 365 dias que se foram agradecemos a disposição para trabalhar, o apoio de quem sempre esteve por perto, os carinhos. E como ninguém é santo, também costumo pedir desculpas pelas palavras enviesadas que dirigi contra alguém em momentos de impaciência. É sempre bom lavar a alma nessa ducha de penitência antes das doze badaladas.
Em 2022, espero que as crianças e jovens sejam mais corajosos. Não me refiro à coragem de dar porrada, de vibrar com o sangue na lona do ringue. Falo da coragem associada ao bem; à generosidade e à compaixão; à vontade de fazer um mundo melhor, encarando sem medo os dragões da maldade disfarçados de fadinhas protetoras. Que os jovens eleitores abram os olhos para a vida real, a vida dura que seus pais tiveram para criá-los, e fechem os ouvidos para a lábia dos bandidos e suas promessas furadas.
Quanto à pandemia, espero que o vírus e suas mutações cessem de trazer sofrimento e abandonem o planeta – embora eu continue amargando aquela dúvida terrível que assola milhões: afinal, a nova peste é uma provação natural, divina, inevitável, fora de nosso controle? Ou uma sacanagem artificial, diabólica, planejada para controlar a gente?
Na mesma linha, espero que todos entendam em definitivo que não existe essa entidade perfeita, onisciente, confiabilíssima, essa vestal pura e honesta denominada “ciência”. Existem, sim, “cientistas”; pessoas como nós que podem ser gênios, brilhantes e idealistas, dedicados ao bem estar da humanidade - ou, então, oportunistas a serviço do poder econômico, das corporações, de causas asquerosas, de ideologias tirânicas. Atenção, pois, à essa dramática diferença.
Que em 2022 cada ser humano seja elogiado ou rejeitado exclusivamente pelo seu caráter e integridade. E não pela raça, crença, gênero, origem, opção política ou afetiva. Isso porque virou moda a estranha absolvição prévia de indivíduos de determinados grupos e a condenação imediata dos que pertençam a outros. É o velho, odioso e inconfundível preconceito – agora em versão maquiada e elegante.
Conheço gente boa, outras nem tanto, e continuo a julgá-las somente pelo que agem, dizem ou pregam. Sejam homens, mulheres, negros, brancos, gays, héteros, direitistas, ricos, pobres, esquerdistas, judeus, muçulmanos, cristãos – para mim, não importa. Vale é o conteúdo - e não a embalagem social com a qual se apresentam e da qual alguns espertos até tiram proveito.
Que no ano novo aqueles caras que batem em mulheres, molestam crianças, maltratam animais, dirigem bêbados causando acidentes sejam punidos com extremo rigor e mofem na penitenciária por obra dessa justiça tantas vezes dúbia, parcial e venal. Que jamais ouçamos o repórter dizer: “os acusados prestaram depoimento e responderão ao processo em liberdade”.
Que em 2022 o país rejeite definitivamente andar para trás nos rastros imundos da política corrupta que tanto mal nos fez no passado. Que a esperança prevaleça diante de tanta adversidade, de tantas mentiras que podem transformar-nos em idiotas iludidos e dominados.
O ano novo será do Tigre, pelo horóscopo lunar, e regido por Mercúrio, o mestre da comunicação. Preparem-se: pelo jeito, 2022 será feroz como o bicho e dará muita conversa, como o planeta.