Quais são as suas desculpas para não ser disciplinado?
Pessoas diferentes carregam padrões diferentes. Naturalmente, portanto, para cada pessoa com dificuldade de construir disciplina existem argumentos fundamentados em justificativas divergentes.
Alguns associam disciplina a rigidez e, sob o discurso de que prezam a liberdade e a flexibilidade, acabam deixando de fazer construções consistentes.
Outros, contudo, são de fato rígidos e tendem a comportamentos extremistas. E justamente por praticar a disciplina de forma exagerada acabam, por exaustão, sentindo dificuldade em dar continuidade a projetos de longo prazo. São aquelas pessoas que mergulham de cabeça em tudo que fazem, mas que perdem o fôlego no meio do processo.
A disciplina é justamente o caminho do meio. Entre os demasiadamente rígidos e aqueles que confundem flexibilidade com falta ação, existe um ponto ótimo a partir do qual é possível regrar o nosso comportamento para garantir bons desempenhos.
Regras são normas de conduta que podemos estabelecer quando desejamos sair do estado atual – seja ele qual for – e alcançar novos resultados – sejam eles quais forem. E o paradoxo é que é justamente o cumprimento das regras que cria espaço para que o descumprimento ocasional delas não seja desastroso. E, nesse sentido, o que a disciplina cria não é rigidez, mas espaço para a liberdade.
A disciplina não precisa nos levar à exaustão. Não precisa ter nada a ver com extremos. Não precisar nascer de um padrão “tudo ou nada”. Entre o 8 e o 80 existem 72 passos. Você pode se propor regras que seja audaciosas o suficiente para sair do status quo e viáveis o suficiente para não te violentar.
Porque, ao passo que o excesso de flexibilidade impede construções consistentes, a falta dela pode nos deixar obcecados e doentes.
Consistência se constrói com doses homeopáticas, e não com overdoses. E, para a homeopatia fazer efeito, você precisa, diariamente, pingar as gotinhas. Tomar o vidro inteiro de florar pode fazer mal, mas ninguém se cura se só usa o conta-gotas quando sente vontade.
O que acontece se você só regar uma planta quando tiver vontade? O que acontece se você só praticar bons hábitos quando tiver vontade?
Para que a planta dê frutos não basta plantar, é preciso regar. Para que hábitos construam resultados não basta desejar, é preciso regrar.
Se você é do time que tem aversão à disciplina, jogue fora as histórias que você tem se contado para continuar na inércia. Falta de movimento não é flexibilidade, é autossabotagem.
Se você é do time que tem apego à disciplina ao ponto de se tornar superidentificado com seus resultados, jogue fora as histórias que te impedem de flexibilizar. Rigidez não é valor, é prisão.
Entre os dois extremos existe uma larga estrada com possibilidades de ajustar nossas dosagens de acordo com contextos, climas, anseios e possibilidades.
Que nosso ego não seja resistente e inerte a ponto de nos manter estagnados nem radical e intransigente para nos privar de aproveitar a amplitude do caminho.
Que a gente saiba que cultivar bons hábitos nos leva a construções sólidas, mas que, se a gente pinga o floral todos os dias, não são duas noites de esquecimento que vão atrapalhar o tratamento.
Que a gente se desobrigue de sustentar extremos, mas que saibamos identificar as justificativas inventadas pela nossa preguiça.
Porque, no fundo, o que precisamos é ser disciplinados o suficiente para que possamos ser flexíveis.