“A cada escolha, uma renúncia”. Você já deve ter escutado isso.
Sendo um pouco mais realista, eu diria que: para todas as escolhas, um preço.
Todas as escolhas trazem ônus e bônus. As pequenas e as maiores.
O problema? A maioria de nós quer apenas o prêmio. Queremos nos apropriar das vantagens, e seguimos reclamando dos preços que precisamos pagar. Queremos levar a Ferrari e parcelar o valor do Fusca.
Amadurecer é aprender a escolher. E isso não significa fazer escolhas necessariamente assertivas, já que todas as escolhas são sempre apostas. A vida não nos dá garantia de resultados.
Aprender a escolher tem mais a ver com aprender a pagar preços. Tem a ver com aprender a calcular os riscos envolvidos em cada um dos bônus que almejamos. Tem a ver com honrar as dívidas trazidas pelas vantagens das quais nos apropriamos.
Serve para tudo.
Escolhemos relacionamentos que nos trazem alguns bônus, mas nos vitimizamos diante dos ônus. Escolhemos empregos que garantem prêmios, mas reclamamos do peso do troféu. Escolhemos transferir responsabilidades, mas lamentamos a impotência. Escolhemos o brigadeiro, e nos frustramos com as calorias.
Toda moeda tem duas faces. E todas as vezes que fazemos escolhas visando apenas à face que nos agrada, estamos nos envolvendo em ciladas perigosas. É como levar uma mercadoria, ignorar o valor a ser pago e depois se perceber em apuros para conseguir honrar a dívida.
Ou como comprar um pacote de jujubas e reclamar da variedade de sabores, porque gosta-se apenas das vermelhas. O pacote contém vários outros sabores menos tentadores, e reclamar da fábrica não vai mudar isso. Se escolhemos essas balas tendo conhecimento de que os sabores são sortidos, não vale reclamar. E se compramos sem ler o rótulo, que saibamos conter a nossa ansiedade, da próxima vez.
A maioria das nossas reclamações é feita pela nossa parte infantil, que não quer ter trabalho e insiste em não pagar preços. Essa parte que insiste em transferir responsabilidades, culpar pessoas e reclamar das circunstâncias. Essa parte que, em vez de se mover, lamenta-se.
A verdade é que não é tão difícil, diante de possíveis escolhas, calcular riscos, prever os prós e mensurar os contras. Mas muitas vezes estamos seduzidos demais pelo sabor das balas e acabamos não lendo as letras miúdas da embalagem. Acontece.
Nesse caso, maturidade seria assumir que o desejo pelo açúcar fez as calorias passarem despercebidas, e correr atrás de queimá-las. Mas não é o que acontece: comemos as balas, lamentamos as calorias e culpamos o fabricante.
Amadurecemos quando nos propomos a sustentar a parte chata das nossas escolhas. Quando compreendemos que, diante de preços malcalculados, precisamos honrar as parcelas restantes e recalcular a rota. Não dá para escolher e reclamar das consequências. É como acender uma vela para Deus e outra para aquele outro cara – que prefiro não citar o nome.
A maioria de nós, contudo, não se conhece o suficiente para saber quais preços consegue pagar. Fazem escolhas visando ao bônus, mas não se perguntam se “dão conta” do ônus. E, assim, passam a vida com o saldo negativo.
Cada um de nós tem valores e limites únicos. Não há como avaliar a escolha dos outros a partir dos preços que pagaríamos. Para uns, a Ferrari vale cada centavo. Para outros, contudo, o Fusca ainda é um investimento mais acertado. Escolhas são tão particulares quanto são nossos valores e prioridades.
O importante é sabermos o tamanho do próprio “bolso” para não nos atrevermos a fazer escolhas que desfalquem nosso estoque de energia, que nos roubem nossa liberdade ou que custem a nossa paz.
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