FLÁVIA DENISE

Faltou criatividade

Redação O Tempo

Por Flávia Denise
Publicado em 21 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
 
normal

Quando a Netflix e a Marvel estrearam, em abril de 2015, o primeiro fruto de sua parceria, “Demolidor”, a notícia foi comemorada por entusiastas de ambas as empresas. A boa recepção da adaptação consolidou essa aprovação, principalmente considerando-se que o personagem andava em baixa após o filme “Demolidor: O Homem sem Medo”, estrelado por Ben Affleck e Jennifer Garner, que, se não foi um fiasco, também não foi exatamente celebrado.
Com um sucesso em suas mãos, a dupla de empresas aproveitou o bom momento para anunciar que aquilo era só o começo. Ainda seriam lançadas as séries dos outros “super-heróis pé no chão” da Marvel: Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Além disso, os quatro seriam reunidos num produto comum, fazendo deles Os Defensores dos quadrinhos – imitando a bem-sucedida estratégia usada com Os Vingadores, no cinema, de lançar narrativas individuais para depois unir os personagens sem se preocupar em apresentar cada um.
Na sequência da série sobre o advogado cego que defende os mais fracos no tribunal de dia e nas ruas à noite, foram lançados “Jessica Jones”, sobre uma mulher que sofreu abuso superando seus traumas para derrotar o homem que a atacou e ajudar amigos e desconhecidos; “Luke Cage”, que conta a história de um homem negro à prova de balas que decide encarar o passado e usar seus poderes para proteger sua comunidade; e “Punho de Ferro”, um garoto bilionário que tenta reaver seu dinheiro ao mesmo tempo em que luta contra uma organização chinesa misteriosa culpada por todo crime organizado.
Cada um desses personagens têm um inimigo diferente. Demolidor luta contra a injustiça, uma força imaterial e presente em cada esquina. Jessica Jones luta contra a opressão, seja ela personificada no vilão Killgrave ou em outras pessoas que insistem em colocá-la “em seu lugar”. Luke Cage luta contra o racismo e a violência, que, perpétuos, deixam tantos jovens negros nascidos em periferias sem a estrutura necessária para viverem bem. Por fim, Punho de Ferro luta contra uma organização chinesa, teoricamente a raiz de todo o mal.
Ao unir os quatro super-heróis, a Marvel e a Netflix decidiram que o vilão que todos teriam em comum seria o inimigo de carne e osso de Punho de Ferro, e não um dos males que assolam a humanidade dos outros super-heróis. O resultado é o esperado: uma série com narrativa direta, por vezes infantil. Faltou criatividade.
Considerando que Punho de Ferro chega depois de outros lançamentos da Netflix que se distanciam da qualidade de “House of Cards” e “Orange Is the New Black” para se aproximar da TV norte-americana, ou melhor, dos sitcoms dos EUA, dá até para não ficar tão triste com a notícia de que a Disney, dona da Marvel, anunciou que vai criar sua própria plataforma de streaming e retirar seus programas da Netflix dos EUA até 2019. Quem sabe não estamos vendo florescer uma nova era do streaming, com outros grandes jogadores além da Netflix.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!