A cena literária tem um quê de arredia. Com tanta gente produzindo literatura em solidão e silêncio e tantas outras pessoas consumindo literatura, também na solidão e no silêncio, o mundo em torno dos livros acaba parecendo um tanto esvaziado para quem está de olho nele, talvez querendo se aproximar. E, por isso, são tão importantes os momentos em que esses autores e leitores encontram-se, seja no mundo físico, seja em locais mais virtuais, como nas páginas (digitais ou analógicas) das revistas literárias brasileiras.
Elas são muitas, mais do que é possível listar neste espaço, mas, para quem está de olho no mundo da literatura, querendo conhecer mais e entender quem são seus atores (ou melhor, autores) há algumas que considero essenciais.
A começar pela “Serrote”. Com uma inspiração clara na mundialmente admirada “The Paris Review”, a revista, que mais parece um livro, é publicada desde 2009 pelo Instituto Moreira Salles. Com suas mais de duzentas páginas, ela é um ponto de encontro dos principais nomes que trafegam pela literatura mundial atualmente, com pitadas, aqui e ali, do melhor da literatura brasileira. Habitam as páginas dos tomos publicados recentemente narrativas do brasileiro Leonardo Fróes e da angolana Djaimilia Pereira de Almeida, além de tradução do aclamado Paulo Henriques Britto, que reconstrói em português o poema em prosa “Cuidado com o que você deseja”, de John Ashbery.
Há também a novata “quatro cinco um”. Batizada em homenagem ao romance de ficção científica “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, a revista começou a circular em maio deste ano. Bem da verdade, quase não podemos falar que é uma revista literária, pois ela não publica literatura, mas resenhas e críticas de livros, formando um panorama mensal do que é publicado no país. Mas, já que o objetivo desta lista é indicar leituras para quem quer se aproximar da literatura, "quatro cinco um" cumpre bem seu papel de incansável inventário de livros em português.
Impossível de deixar de fora desta lista é o “Suplemento Literário de Minas Gerais”. Velho conhecido (afinal, com seus 51 anos, ele é a publicação literária mais antiga do país), ele é mais indicado para quem tem sede de poemas, narrativas e ensaios. Com um olhar atento ao nosso passado literário e uma vontade de revelar preciosidades contemporâneas, a publicação é boa porta de entrada para quem quer “achegar-se” e conhecer os tais autores da cena.
Agora, se o leitor quer um pouco de narrativas salpicadas entre ensaios, críticas, resenhas e dicas de leitura, uma boa aposta é o “Suplemento Pernambuco”. Não têm a história do primo mineiro (só começou a circular em 2007), mas sua juventude lhe permite ousadias gráficas que aquecem o olhar. E seus editores têm um faro aguçado que ultrapassa as fronteiras do Estado: a capa da edição de novembro, por exemplo, é do belo-horizontino Ricardo Aleixo.
A verdade é que há tantas revistas literárias quanto gente interessada em ver essa cena eu movimento (eu mesma já fiz a minha, a “Chama”, que trará novidades em breve), mas são essas quatro que vejo seguir identificando e publicando literatura e crítica, num movimento de resistência que vai transformando-se, aos poucos e se tudo der certo, numa grande onda da deleite literário. Antes de partir, deixo o nome de uma quinta revista, que apesar de não ser de papel, não pode ficar de fora. A “Pessoa”, fundada em 2010, tem conseguido reunir autores de todo o país para falar, não só de livros e da arte da escrita, mas para debater assuntos diversos, para se mostrarem como pessoas interessadas no mundo real e não só os bons poetas e escritores que são. É o tipo de texto para ler diariamente, sem pressa ou compromisso.