Que o calendário do futebol brasileiro precisa de melhorar demais, todo mundo sabe. O que é incrível é o fato de o tempo passar e as evidências serem cada vez mais claras de que o modelo não funciona. As coisas por aqui demoram para acompanhar a velocidade dos outros países. Chegamos ao ridículo de torcedores comemorarem quando um jogador pede dispensa de sua seleção ou de um técnico ser ofendido por chamar determinado atleta. Os reflexos são nítidos. E alarmantes.
O atual futebol brasileiro é repleto de atletas sul-americanos. Provavelmente, serão chamados por suas seleções. Alguns clubes, como o Santos, por exemplo, com vários gringos, são ceifados em situações assim. A CBF consegue proezas como marcar semifinais e finais da Copa do Brasil em períodos assim. O Santos não estava mais no torneio, mas disputa o título do Brasileirão. Quem estava na disputa da Copa do Brasil, por exemplo, eram Cruzeiro e Internacional. A Raposa ficou sem Orejuela - e Rogério Ceni teve que improvisar o volante Jádson na vaga do lateral-direito colombiano. Guerrero negociou com a seleção peruano e conseguiu atuar pelo Inter - e foi decisivo. Fez dois gols na semifinal e poderá jogar o jogo de ida da final sem qualquer tipo de desgaste.
Tite optou por não chamar nenhum integrante de uma equipe semifinalista da Copa do Brasil, o que é um prejuízo para a própria seleção, obviamente. Claramente, está ficando ruim para todos os lados. Carlos Queiroz, técnico português da Colômbia, se incomodou com a possibilidade de liberar Orejuela. E ele não está errado. Errado está quem faz um calendário que expõe clubes, jogadores e treinadores a esse desgaste.
Na minha opinião, existe um excesso de Datas Fifa, assim como um número alarmante de jogos sem sentido - e, no caso da seleção brasileira, bem distantes do país. Para complicar, seleções sub-23, sub-20 e afins também recrutam jogadores nessas datas que são titulares ou reservas importantes em seus clubes. Para citarmos mais um caso mineiro, é a situação de Cleiton e Guga, do Atlético.
O debate sobre o tamanho e o formato dos estaduais vai ficar para um outro momento aqui neste espaço, mas é claro que, para os grandes clubes, ainda é o calcanhar de aquiles. O que não pode passar desse momento é o fato de que o efeito está sendo cada vez mais nocivo para o futebol brasileiro. Justo em um momento de crescimento de média de público e de atração de atletas com carreiras europeias. Tem coisas que estão caminhando em sentidos opostos.