Frederico Jota

Cruzeiro: a cartilha para o fracasso foi seguida à risca

Processo que não parece ter fim e piora de forma alarmante a cada dia poderia ter sido evitado há alguns anos

Por Frederico Jota
Publicado em 14 de janeiro de 2021 | 15:37
 
 
 
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No futebol, dizem que existe uma cartilha a ser seguida quando o caso é de fracasso esportivo, rebaixamento e crise. Nessa temporada atípica de 2020/21, o Cruzeiro seguiu rigorosamente vários critérios que compõem a malfadada cartilha. De tudo um pouco estava no roteiro: trocas de técnico, contratações equivocadas e turbulência política. Pitadas de cada ingrediente desse cardápio de péssimo gosto fizeram parte de um processo que parece não ter fim e que piora de forma alarmante a cada dia. O buraco parece que é cada vez mais embaixo e não se resume a “apenas” esses fatores citados acima.

Um dos clubes mais vitoriosos da última década, com quatro conquistas nacionais em seis anos (dois Brasileiros e duas Copas do Brasil), o Cruzeiro sofre ainda hoje os efeitos da formação das equipes campeãs. Parece paradoxal dizer isso, mas a construção de elencos caros, especialmente os que levantaram as Copas do Brasil de 2017 e 2018, cobra o preço agora. Ou melhor, desde 2019, quando basicamente os mesmos jogadores contribuíram para o inédito rebaixamento à Série B.

Nenhum problema em montar elencos com grandes jogadores e pagar salários altos desde que um planejamento financeiro condizente com o gasto seja feito para administrar e arcar com tudo isso. Para tentar ajustar o rombo iminente, o Cruzeiro passou a contar em seu orçamento com futuras conquistas, mas, por exemplo, os mais de R$ 50 milhões de premiação pelo título da Copa do Brasil de 2019 ficaram na ilusão. Como pano de fundo, denúncias graves de desvio de verbas do clube, processos, dilapidação total dos recursos financeiros e um presidente que nem sequer terminou seu mandato.

O alerta poderia ter sido ligado bem antes, no início de 2019. O elenco, de qualidade técnica inquestionável, estava envelhecido e perdeu força nas retas finais da Libertadores e da Copa do Brasil e, com o pano de fundo da crise política que se desenhava nos bastidores, perdeu força também no Brasileiro e só entendeu mesmo que poderia cair quando o fato se consumou.

A queda de uma equipe cara, com jogadores experientes, para uma em formação, com atletas feitos em casa, mas longe de estarem prontos, foi brusca. Essa mesma base, que aparenta não ter o cuidado que merece, pouco acrescentou quando foi preciso. Junte-se a isso o retorno de jogadores que pertencem ao clube, estavam emprestados e, sem espaço onde jogavam, retornaram e nada fizeram. Em campo, o Cruzeiro foi um reflexo de um 2020 com gestões diferentes ao longo do ano fora do gramado e brigas políticas internas, com debate até em uma eleição do conselho deliberativo. 

Se fora do campo são comemorados acertos para redução de dívidas astronômicas, apesar de a torcida se perguntar como elas serão pagas, em campo não há nada a comemorar. Quatro técnicos em 2020 com modelos de jogo diferentes e nenhuma evolução, contratações equivocadas, poucos garotos com chance de dar retorno (técnico e financeiro). De quebra, salários atrasados e um rombo financeiro sem igual. São muitos fatores para preocupação e, o que é pior, um cenário que não traz esperança. 

Ausência da torcida 

A cartilha para o fracasso esportivo foi seguida de forma bem nítida e agravada por uma questão sobre a qual ninguém tinha controle: a pandemia tirou os torcedores do Cruzeiro do estádio. Talvez com eles nas arquibancadas o fracasso esportivo tivesse sido amenizado e as receitas, que já são parcas, melhorariam. Um duro golpe tanto para os apaixonados que ficaram distantes de ver o time de perto como para o clube. E são esses torcedores que precisam de respostas, que precisam ter um direcionamento, um entendimento sobre o que esperar do Cruzeiro. É preciso dizer a eles o que fizeram com o clube. E como será o clube pelo qual eles vão torcer a partir de agora.

 

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