Se os 358 homicídios registrados em Belo Horizonte em 2024 fossem enfileirados como corpos ao longo da avenida Afonso Pena, formariam uma fila de mais de 600 m cortando o coração da capital. Essa imagem brutal dimensiona a tragédia silenciosa que vivemos. A segurança pública em Minas Gerais não vai bem, e os dados confirmam essa realidade de forma incontornável.

Enquanto o Brasil registrou queda de 6,3% nos homicídios dolosos, Minas Gerais seguiu na contramão. O número de assassinatos subiu 7,38%, de 2.657 para 2.853 vítimas, o terceiro pior resultado entre todas as unidades da Federação (Mapa da Segurança Pública 2025, p. 5). A capital mineira foi a sétima cidade com mais homicídios no país (Mapa, p. 6), voltando a ocupar uma posição já superada.

Criminalidade

Ainda há o crescimento da letalidade policial: foram 199 mortes por intervenção em 2024, alta de 43% em relação ao ano anterior (Mapa, p. 8). Apesar da aquisição de 1.642 câmeras corporais, 1.040 com verba federal e 602 com recursos do Ministério Público, o programa ainda não foi implementado (Atlas da Violência 2025, p. 95). Uma Ação Civil Pública exige que o Estado estabeleça um cronograma de até dois anos para uso integral dos equipamentos.

A violência contra mulheres também permanece inaceitável. Foram 133 feminicídios em 2024, número absoluto só menor que o de São Paulo (Atlas, p. 125). Isso significa um assassinato de mulher a cada três dias. Os estupros também cresceram: 5.330 registros em 2024, alta de 8% em relação ao ano anterior (Atlas, p. 130). A dor das vítimas ainda enfrenta barreiras institucionais, como a burocracia e a infraestrutura inadequada.

A criminalidade digital avança como uma epidemia silenciosa. Em Minas Gerais, estelionatos virtuais aumentaram 214% entre 2018 e 2023. Foram 52,5 mil ocorrências apenas no primeiro semestre de 2024 – uma média de 160 fraudes por dia (Atlas, p. 182). A população perde dinheiro, paz e dignidade, enquanto o Estado não estrutura uma resposta à altura da gravidade do problema.
No sistema prisional, o drama se repete. Mais da metade dos presos soltos em Minas volta a cometer crimes em até cinco anos. A taxa de reincidência de 51,4% (Atlas, p. 72) revela que não basta prender. É preciso transformar, com políticas públicas de reinserção social.

Soluções

As soluções não são segredo. Estão descritas em relatórios técnicos, diagnósticos públicos e estudos de instituições sérias. Falta ação para executá-las. O Ministério da Justiça e o Ipea apontam direções objetivas que Minas Gerais pode adotar, além do desejado Sistema Único de Segurança Publica, projeto de lei essencial que tramita em Brasília.

É urgente colocar em operação as câmeras corporais já adquiridas. É medida de baixo custo, com efeitos positivos diretos na redução da letalidade e na confiança social nas forças de segurança. Também é necessário ampliar Delegacias de Atendimento à Mulher e Patrulhas Maria da Penha, garantindo aplicação mínima de 10% do Fundo Nacional de Segurança Pública no combate à violência de gênero (Mapa, p. 14).

O combate ao crime digital requer uma força-tarefa especializada e campanhas de educação pública. Nossos idosos e comerciantes não podem continuar desamparados diante de um tipo de violência invisível, porém devastador.

Na prevenção, o Estado precisa expandir o que funciona. O programa Fica Vivo!, com ações territoriais de redução de homicídios, deve chegar a mais bairros e municípios. Falo com a experiência de quem foi subsecretário de Juventude entre 2011 e 2014 e acompanhou de perto seus impactos positivos (Atlas, p. 145).

Ressocialização também não pode ser retórica. As Apacs, modelo mineiro admirado internacionalmente, devem ser fortalecidas. Trabalho e estudo no sistema prisional devem ser regra, e não exceção (Atlas, p. 117).

Nada disso funcionará sem dados confiáveis. Minas precisa melhorar radicalmente a gestão da informação. Políticas públicas precisam ser baseadas em evidência, com metas, cronogramas e avaliação de impacto (Mapa, p. 2 e 11).

Segurança pública não se faz com bravata nem com viagem para El Salvador. Ou Israel... A vida do povo mineiro é real demais para virar espetáculo. Minas precisa de responsabilidade, coragem e compromisso com soluções verdadeiras.