Uma notícia de jornal revela traços do ethos nacional: as máscaras de Tiririca e Dilma Rousseff são as preferidas para o Carnaval. A cara de Tiririca, o palhaço que se elegeu deputado, e a de Dilma, a técnica que virou presidente da República, deverão ser as mais vistas na folia. Ambas expressam atributos que emolduram o jeito de ser do brasileiro: a improvisação, o deboche, a irreverência, de um lado; a identificação com o poder, a opção pelos vitoriosos, de outro.


Puxar personagens com esse estofo para os salões da folia é dar vazão ao sentimento das ruas. O deputado e a presidente representam o verso e o reverso, o poder informal e o poder formal, conjuminados na ampla radiografia da nossa cultura.


Se as máscaras do ex-governador de São Paulo José Serra e da ex-senadora Marina Silva abarrotam os estoques não é por serem feias ou bonitas, mas porque ambos perderam as eleições. Assim, quem perdeu posição na política fica fora de foco, com exceção de quem consegue pular na gangorra, subindo e descendo, como José Sarney e Paulo Maluf, cujas máscaras continuam à disposição em qualquer loja.


O que tem chamado a atenção, porém, é a pequena atração exercida por Serra, seja no mostruário das máscaras, seja no próprio palco da política. A sensação é que o ex-candidato se encontra agora num patamar exageradamente baixo no ranking da influência. O que teria acontecido para distanciamento tão acentuado, considerando que, mesmo derrotado no pleito, chegou a ter quase 44 milhões de votos?


Serra tem sido o alvo mais impactado pela vitória da petista. Seu afastamento do centro político tem a ver com o ditado "quem é dono da flauta dá o tom". Neste momento, a orquestra tucana parece desafinada ante a regência de Sérgio Guerra. Os acordes mais afinados são dados pelo maestro Fernando Henrique Cardoso. O PSDB dá sinais de que o perfil em ascensão nas hostes oposicionistas é o do senador Aécio Neves, cujo bom desempenho em Minas Gerais o habilita a ser o principal jogador no tabuleiro de 2014.


E é fato também que o PSDB atravessa uma das curvas mais fechadas de sua trajetória. Mais que uma disputa de lideranças, o partido vive uma crise de identidade. Ao longo dos anos foi forçado a repartir o escopo da social-democracia com outras siglas, incluindo o PT. Desde que foi criado, em 1988, sempre circulou pelo meio das classes médias, profissionais liberais, núcleos acadêmicos e formadores de opinião, nunca frequentando as margens. Ganhou, com alguma razão, o selo de partido elitista.


É visível o esforço do ex-presidente FHC para oferecer um norte aos tucanos. Basta ler seu artigo "Tempo de muda", em "O Estado de S. Paulo" do último dia 6. Abrir o verbo e falar forte, conforme sugere à oposição, seria bom conselho?


Ou será que faltam interlocutores e ouvintes? Montaigne dizia que o poder da palavra pertence metade a quem fala e metade a quem ouve. Donde se pinça a dúvida: quem está motivado a ouvir a mensagem da oposição?