Gaudêncio Torquato

O voto do novo corona

Projeções sobre as eleições de novembro


Publicado em 05 de julho de 2020 | 03:00
 
 
 
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Definidas as datas das eleições – 15 e 29 de novembro –, a maior interrogação se espraia: afinal, para onde vai o voto influenciado pelo novo “coronel”, desculpem, a nova corona da política? As circunstâncias sinalizam a direção dos ventos pandêmicos, a partir da hipótese de que o danado do vírus já estaria dominado pela medicina. Por isso, qualquer pressuposto deve considerar o que este analista batiza de Produto Nacional Bruto da Felicidade. Abaixo de 5, desgraceira geral e alto índice de renovação. Acima de 5, uma mescla de gente nova, prefeitos reeleitos e até velhos nomes de volta.

Uma das projeções é que as mulheres ganharam evidência durante a crise, mais falantes e valentes na crítica aos precários serviços públicos. A par disso, evoca-se sua condição nas atividades do cotidiano, na educação dos filhos, na azáfama para organizar em meio as intempéries da família. Daí merecerem o voto de fortes parcelas eleitorais.

Um fenômeno que se expande no país, seguindo movimentos que se multiplicam no mundo, é o da organicidade social, tendência já consolidada na Europa, nos EUA e nos países orientais – vejam Hong Kong – , e que se desenvolve aqui de maneira consistente. A Constituição de 1988 abriu um imenso leque de direitos individuais e sociais que, nos últimos anos, se tornaram movimentos organizados, capazes de mobilizar multidões.

A sua força se avoluma na esteira do descrédito da classe política. Parlamentares e governantes deixam de cumprir tarefas, só reaparecem nos ciclos eleitorais e operam no balcão da velha política. Esses ganharão passaporte para casa.

Vácuo

Ora, a descrença generalizada abriu imenso vácuo entre eles e a sociedade. As entidades organizadas ocuparam esse espaço e fundaram novos polos de poder. A intermediação social entrou forte nas frentes de pressão. O Congresso virou passarela para o desfile de associações, sindicatos, federações, núcleos, grupos, movimentos de todos os tipos. O voto terá essa forte alavanca.

Outro vetor de peso é o das frentes parlamentares. Fazem parte do circuito anterior aqui descrito, mas merecem um destaque. Agrupam as bancadas religiosa, do agronegócio, dos servidores públicos, dos militares, do setor de serviços, dos profissionais liberais etc. Elas tendem a se consolidar na esteira de uma tendência planetária, muito característica dos EUA, onde o voto vai geralmente para o representante dos interesses locais e das regiões, como as bancadas ruralistas, dos servidores públicos etc. Pode-se deduzir que o voto distrital deve se fortalecer, com as classes sociais subdividas. Os deputados querem aumentar suas bases.

Dessa forma podemos divisar uma composição ditada pelo modo como as categorias enxergam a política. Profissionais liberais tendem pelo voto mais racional, que deixa o coração para subir à cabeça. Ele se concentra nas grandes e médias cidades, mais abertas aos meios de comunicação e às críticas aos governantes. No contraponto, enxergamos traços do passado em rincões do País, habitat de raposas políticas de administrações falidas.

Em suma, o novo coronel (desculpem, o novo corona) estará na fila das seções eleitorais.

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