GAUDÊNCIO TORQUATO

Pronto para a decolagem?

Quem articulará? Uma Torre de Babel espreita o governo


Publicado em 17 de fevereiro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Não há como dar errado. O governismo, sempre com muita força em início de gestão, usará seu rolo compressor para aprovar no Congresso seus primeiros projetos. Só mesmo continuada instabilidade poderia inviabilizar a agenda. Sinal de uma “reversão de expectativas” seria o imbróglio envolvendo o presidente Bolsonaro, seu filho Carlos e Bebianno. A crise foi debelada com a permanência do ministro na Secretaria Geral? Só o tempo dirá.

Após o pleito, desfraldando a bandeira de mudanças e com apoio popular, Bolsonaro reúne as condições para aprovar a reforma da Previdência e o projeto anticrime e de combate à corrupção. Na Câmara, o governo conta com os 308 votos necessários para aprovar a PEC da Previdência e o pacote do ministro da Justiça, que altera 14 leis, entre elas o Código Penal, a Lei de Execução Penal, a Lei de Crimes Hediondos e o Código Eleitoral. O poder do Executivo se esgarçará com o tempo, na medida em que a administração não apresentar resultados.

As duas encomendas darão impulso ao governo, tirando-o do marasmo ou da sensação de baixa iniciativa, compreensível ante o afastamento do presidente para tratar da saúde. A mudança na Previdência, fixando a idade mínima de aposentadoria da mulher aos 62 anos e dos homens aos 65, tem prazo até junho para ser aprovada.

Já a “blitzkrieg” do combate à corrupção, ao crime organizado e aos crimes violentos também deverá ganhar ajustes, sem desnaturar seu escopo.

Paulo Guedes e Sergio Moro não podem perder, sob pena de fragilizar o governo. Na frente política, o presidente não terá grandes dificuldades, pois disporá da boa vontade de Rodrigo Maia, cuja reeleição na Câmara se deve a seus méritos. O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, do DEM, não a via com bons olhos.

A formação de um bloco com mais de 300 parlamentares (PSL, PP, PSD, MDB, PR, PRB, DEM, PSDB, PTB, PSC e PMN) dá segurança ao governo.

No Senado, a aprovação da PEC carecerá do voto de 49 senadores, número mais fácil de alcançar em razão dos novatos e da interlocução junto aos 81 membros. Para coroar, assumiu o comando o senador Davi Alcolumbre, do DEM-AP, resultado de uma articulação de Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, que pode exibir sua vitória como troféu. Assim, o ministro dá meia-volta na ladeira do desprestígio.

E a oposição? PT e PSOL estão sem rumo. Dizer que as reformas tiram direitos dos trabalhadores não mais convence. Perde para o lema “reformar a Previdência ou quebrar o Brasil”. MDB e PSDB serão pragmáticos, votando a favor das reformas, mas com “independência”. O PSL, bancada maior da Câmara (55), superando a do PT, com 52, puxará a votação governista, mas corre o perigo de ver seus integrantes disparando tiros uns contra outros. É um partido sem escopo.

A articulação também gera atritos. Afinal, quem articulará? O ministro general Santa Cruz, da Secretaria de Governo, o ministro Lorenzoni, Bebianno, o vice-presidente Mourão? Qual será o papel dos filhos do presidente? Uma Torre de Babel os espreita.

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