O brasileiro está insatisfeito com os serviços públicos. Segurança? Um desastre – tanta morte por bala perdida, como no Rio. Educação? Piada. Weintraub, aliás, gosta de chiste. Mobilidade urbana? Um atraso – as massas se comprimem nos transportes coletivos. Saúde? Um caos nos corredores de hospitais superlotados.
Difícil apontar algo de boa qualidade. O país precisa de um gigantesco choque de gestão. Governadores e prefeitos, a hora é esta: ponham a administração na UTI. Convoquem secretários, cobrem mudanças, deem carta branca para novos métodos, exijam resultados. O eleitor está de olho: ou reelege, ou bota para fora.
Sigam o exemplo de Zaratustra, o protagonista que Nietzsche criou para dar unidade moral ao cosmo. O profeta vivia angustiado à procura de novos caminhos e recitava em seus solilóquios: “Não quer mais, o meu espírito, caminhar com solas gastas”. Decifrador de enigmas, arrumou a receita para as grandes aflições: “Juntar e compor em unidade o que é fragmento, redimir os passados e transformar o que foi naquilo que poderá vir a ser”.
A imagem, na fábula em que o filósofo apresenta o conceito do eterno retorno, cai bem na atual administração pública. A orquestra institucional pede novos arranjos para preparar o amanhã, resgatar a esperança perdida. É a bandeira a ser desfraldada, pois a sociedade recusa a velha política.
A tarefa requer arrojo para enfrentar dissabores e pressões. Muitos não queimam gorduras, preferem remendar cacos. O velho Brasil não consegue enxergar novos horizontes. O que pode mudar, ser desobstruído ou melhorado? Se Vossas Excelências fecharem os olhos, a descrença só aumentará.
O fato é que os Poderes da República têm um apreciável PIB de compadrio político sob o cobertor público e resvalando no custo Brasil. As políticas, inclusive as salariais, são disformes e ineficientes.
A gestão de resultados é resquício quase imperceptível nas planilhas de um Estado caro e paquidérmico. Junte-se à pasmaceira o colchão social do distributivismo para se flagrar a cara de um país atrasado. A administração pública parece uma árvore sem frutos.
A sociedade exige uma virada de mesa. O cardápio está pronto: viagens de servidores, participação de empresas estatais em eventos, gastos publicitários, cartões corporativos, nepotismo. Todo centavo gasto em grandes avenidas e pequenas veredas merece uma varredura. A palavra de ordem do momento: transparência total.
Parafraseando Luiz Inácio, “nunca antes na história desse país” se percebeu tanta irritação com políticos e governantes. Se é falácia dizer que a Amazônia é o pulmão do mundo, como denunciou Bolsonaro na ONU, é também falácia dizer que as instituições estão sólidas. As tensões entre Poderes subiram ao pico da montanha.
Governantes, tenham coragem para ousar. Cirurgia profunda na gestão pública, sob pena de a esfera privada (oikos, em grego) continuar a invadir a esfera pública (koinon). Não permitam que a fome particular continue a devorar o cardápio do povo.