GILDA DE CASTRO

A possível mobilização por Mariana

Redação O Tempo


Publicado em 11 de novembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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A mídia mostrou, nos últimos dias, que permanecem os problemas desencadeados pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015, na cidade primaz de Minas Gerais. Os flagelados não foram ressarcidos de suas perdas patrimoniais, nem foram adotadas medidas efetivas para reparar os danos ambientais em parcela expressiva da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.

O município de Mariana foi mais afetado, diante da paralisação das atividades da mineradora sediada ali, provocando diminuição de receita indispensável para cobrir as despesas correntes e atender as necessidades dos desabrigados. Infelizmente, não se enfatizou, desde o dia do desastre, que a cidade não tinha sido atingida pela lama tóxica nem pelo desabastecimento de água. Houve redução do turismo e isso tornou-se um problema, porque ele foi sempre importante para a economia local. Os mineiros deveriam, então, fomentar esse setor para que sua primeira capital pudesse brilhar muito, livrando-se da inércia do poder público. Os programas não assumiriam perfil de benemerência, porque a circulação pelas ruas, igrejas e museus constitui uma experiência extraordinária ao viabilizar o conhecimento do patrimônio sacro, artístico e arquitetônico relativo ao barroco dos séculos XVIII e XIX. O centro histórico tem alto grau de preservação do casario que se integra a várias instituições, como o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, o Museu da Música e a Catedral de Nossa Senhora da Assunção, construída em 1704. Está ali em perfeitas condições de uso, em missas dominicais, o órgão Arp Schnitzer 3, do século XVIII, peça única fora da Europa.

A praça Minas Gerais tem relevância especial para os visitantes, porque reúne a Casa de Câmara e Cadeia, uma réplica do Pelourinho demolido em 1871 e as igrejas de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora do Carmo.

Destaca-se também a bela edificação do Colégio da Providência, na encantadora rua Dom Silvério. Ele foi o primeiro educandário feminino deste Estado, instalado com empenho pelo bispo dom Viçoso, em 1849, porque ele não queria que as mulheres mineiras permanecessem sem instrução. Está adaptado para hotel e acolheu, por algum tempo, os desabrigados, após o desastre de 2015.

Com tantos tesouros históricos e por ter sido núcleo do Ciclo da Mineração, no século XVIII, a cidade recebeu, em 1945, por decreto de Getúlio Vargas, o título de Monumento Nacional. Mariana merece, portanto, muitos visitantes, e será melhor se eles estiverem participando de bons projetos elaborados por organizações civis interessadas em dinamizar o turismo. Esse setor da economia não degrada o ambiente, incentiva a preservação do patrimônio histórico, projeta o país mundo afora, insere a população na modernidade, promove a instrução e eleva a autoestima dos moradores. Nesse caso, os mineiros demonstrarão sua força como sociedade civil, manifestando apreço a sua primeira capital, que detém a primazia como vila, cidade, diocese e arquidiocese deste Estado.

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