GILDA DE CASTRO

Corpolatria masculina e a submissão à vida moderna

Desde a Antiguidade, os homens cuidam também da beleza


Publicado em 23 de novembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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As mulheres são criticadas porque gastam muito dinheiro em recursos estéticos, mas peças arqueológicas, dados etnográficos e obras de arte mostram que, desde a Antiguidade, também os homens cuidam da beleza corporal. Cretenses e egípcios faziam maquiagem e sugeriam que o poder estava diretamente relacionado à sofisticação dos trajes e adornos da nobreza, pois sua qualidade indicava o status do usuário. Isso foi importante entre os gregos, romanos e senhores feudais, além de muitos povos da África e das Américas.

Esse empenho cresceu, nos últimos anos, porque a apresentação tornou-se crucial na era da imagem, quando estão em jogo poder e prestígio de diversos atores sociais. Ou seja, a beleza é agora fator de empregabilidade e de avaliação do indivíduo como um todo, porque é interpretada como indicador de qualidades superiores em outros aspectos da vida. Os empregadores exigem, por exemplo, “boa aparência” de seu pessoal e pagam salários melhores aos mais bonitos e elegantes, diante da premissa de que quem cuida bem de si é perfeccionista em suas atitudes e contribui para a identidade favorável da organização.

As moças vêm estabelecendo também novos princípios para o jogo da sedução, porque têm adquirido autonomia emocional e econômica e não se submetem facilmente a relacionamento insatisfatório. Isso está provocando revisão dos conceitos de masculinidade e alteração de atitudes no mercado matrimonial.

Poucos homens admitem a relevância da beleza corporal, mas sofrem diante de críticas a seu corpo, especialmente quanto à calvície e ao abdômen volumoso. Muitos recorrem à cirurgia plástica, aplicação de toxina botulínica na face, ginástica em academias, tratamento de pele a laser, lipoaspiração, implante capilar, correção de flacidez nas pálpebras, terapia ortomolecular, reeducação alimentar e depilação definitiva da barba. Procuram salões de beleza que oferecem banhos especiais, pedicure, manicure, tintura de cabelos, alinhamento de sobrancelhas, limpeza e hidratação da pele e drenagem linfática. Os mais modernos fazem aplicação de silicone no peitoral e nas nádegas. Querem, portanto, atingir o padrão de beleza masculina, que é “corpo sarado”, altura elevada, harmonia corpórea com ombros largos e quadris estreitos e expressão embrutecida.

Esse novo perfil foi rotulado pelo jornalista inglês Mark Simpson, em 1994, de “metrossexual”, que é o heterossexual interessado em embelezamento, próprio de grandes cidades. Isso existe em Belo Horizonte, com demanda masculina para serviços estéticos, embora alguns continuem censurando esse interesse exacerbado pela aparência. Admitem, entretanto, vigorosos exercícios físicos, porque prezam o modelo tradicional de que um homem atlético protege mais a companheira e os filhos.

Muitos rapazes consideram-se fracos e esqueléticos; por isso malham exaustivamente em academias de ginástica e consomem coquetel de proteínas ou outros energéticos. Eles se comparam a colegas mais fortes e ficam deprimidos, acreditando que não atingem o padrão definido para a figura máscula da atualidade. Isso evidencia uma patologia denominada “bigorexia”, “vigorexia”, “síndrome de Adônis” ou “transtorno dismórfico corporal”, que repercute na identidade social e aumenta a agressividade, comprometendo a inserção dos jovens na sociedade. Esta deveria constituir vários padrões de beleza para atender a diversidade física nos diversos grupos populacionais.

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