Depois da tragédia em Bento Rodrigues, imaginávamos que o poder público e o empresariado tomariam providências efetivas para proteger a população, a natureza e os empreendimentos, porque isso garantiria bem-estar, segurança e prosperidade a Minas Gerais. Existem aqui incalculáveis riquezas minerais, alta densidade demográfica e magnífica biodiversidade; muitos bandeirantes vieram, então, a partir do século XVII, extrair ouro e pedras preciosas. São parte de nossos antepassados, que viveram histórias de cobiça/desalento, enfermidades próprias da mineração e luta intensa para garantir alimento em terreno árido. A fixação nesta área não foi, portanto, fácil, mas não havíamos imaginado que talvez sejamos banidos por avalanches de lama sem aviso prévio ou pelo avanço impiedoso das mineradoras que corroem o solo, destroem os recursos hídricos e sinalizam sua vontade expressa de apropriar-se de todo o território.

Somente na região metropolitana de Belo Horizonte, vivem mais de 6 milhões de pessoas, e há muitas outras cidades no entorno com inestimável patrimônio histórico, material e simbólico, construído por muitas gerações com a dedicação própria à terra natal e ao futuro dos filhos. É insuportável imaginar, portanto, que toda essa complexa malha urbana seja destruída por uma atividade econômica, mesmo que gere muitos empregos e pague muitos impostos.

O desastre de Brumadinho ultrapassou todos os limites da tolerância, porque são mais de 350 vítimas, com severos danos ambientais, pesados custos aos cofres públicos e grande impacto na economia regional, bem como na subsistência de muitas famílias. A retomada das informações sobre Mariana aumentou nossa indignação, porque acertos nos bastidores vêm garantindo impunidade aos responsáveis; as mineradoras mantiveram suas técnicas obsoletas; não houve reparação ao bioma na região do Rio Doce; e os flagelados não foram indenizados pelas suas perdas materiais e de seus entes queridos.

Brumadinho sofreu o sétimo desastre de rejeitos de mineradoras, desde 1986, e existem aqui muitas outras barragens construídas sem cumprimento de normas de segurança e alheias aos protocolos de modernidade e sustentabilidade. A repercussão internacional foi imediata, porque ficou demonstrado que o Brasil continua admitindo descaso em relação à população e ao ambiente depois da dramática experiência de 2015.

A economia deste Estado não deve sustentar-se no setor mais primitivo da economia, que é o extrativismo mineral, submetendo-se às determinações de empresas sem apreço pela comunidade, pelos seus funcionários, pela história e pela natureza.

Tendo tantas jazidas minerais, não podemos continuar no nono lugar em IDH-M, enquanto somos a segunda população vivendo no quarto maior território. Não vamos aceitar que cobiça desmedida, trapaças políticas e incúria administrativa inviabilizem nossa terra natal e ignorem planejamentos estratégicos para o desenvolvimento sustentável.