GILDA DE CASTRO

Fraude eleitoral e o caso Proconsult em 1982

Redação O Tempo


Publicado em 19 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
 
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Estamos censurando as urnas eletrônicas porque sabemos que hackers invadem sites bem protegidos. Há resultados surpreendentes em relação a pesquisas mais objetivas; outros países recusaram a ferramenta, e não confiamos em autoridades que nos desrespeitam constantemente. Mesmo assim, ela será mantida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no próximo pleito, sem impressora, que conferiria lastro material quanto à vontade do eleitor. Cria-se, então, mais uma oportunidade para fraudes, no dia 7 de outubro de 2018, sem chance de auditar o resultado.

Houve diferentes processos para trapacear eleições ao longo de nossa história. Na República Velha, os votantes escreviam o nome do candidato em livro aberto diante dos coronéis; os auxiliares destes entregavam, depois, as “marmitas” lacradas ao eleitor para que ele depositasse na urna, alegando que o voto era secreto, e, durante muitos anos, os números eram alterados nos mapas de apuração, preenchidos a lápis para a totalização final.

O uso de urnas eletrônicas começou em 1989, sob protesto de Leonel Brizola, que alegava risco de fraude sem registro gráfico dos votos. Houve, desde então, avanços magníficos na informatização e, ao mesmo tempo, nas habilidades dos hackers para interferir na transmissão de dados.

Brizola era experiente em fraude eleitoral, porque tentaram impedir sua eleição a governador do Rio de Janeiro, em 1982. Os brasileiros merecem, 35 anos depois, explicações convincentes sobre as manobras que imperaram no pleito mais complexo de nossa história, porque ele era para todos os cargos do Poder Legislativo e do Executivo, exceto a Presidência da República. Os candidatos espalhavam-se por cinco partidos e suas sublegendas, com voto vinculado, enorme dificuldade para quem não era instruído e para a apuração porque estava proibido o sufrágio em candidatos de siglas diferentes nos seis cargos. O governo militar apoiava Wellington Moreira Franco (PDS) e rejeitava o velho inimigo, Leonel Brizola (PDT), esperando que ele perdesse. Era o preferido das camadas mais pobres e semialfabetizadas da capital que não saberiam votar; portanto, boa parte de seus votos seriam anulados.

O TRE-RJ contratou a empresa Proconsult para fazer a totalização dos votos. Enquanto os repórteres do “Jornal do Brasil” permaneciam próximo às mesas de apuração para publicar o resultado parcial no dia seguinte, a TV Globo divulgava passo a passo os boletins com projeções do resultado final entre a metrópole e o interior. O descompasso foi aumentando, e Leonel Brizola não aceitava que perderia. A tensão emocional crescia a cada instante, e a queda de braço entre os dois veículos foi inevitável. A proclamação dos resultados aconteceu somente 13 dias depois, mas há muitos pontos obscuros nessa história, especialmente quanto à responsabilidade da emissora hegemônica na apresentação das informações. É importante saber agora detalhes daquele tempo e cobrar impressora em todas as seções.

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