Gilda de Castro

Maria da Cruz, heroína do sertão são-fraciscano

Dia homenageia guerreira que viveu à frente de seu tempo


Publicado em 31 de janeiro de 2015 | 13:00
 
 
 
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Há várias mulheres notáveis na história de Minas Gerais, como Bárbara Heliodora, Joaquina do Pompéu, Chica da Silva e Dona Beja. Maria da Cruz Porto Carreiro superou, entretanto, todas elas pela coragem, ação humanitária e liderança política, às margens do rio São Francisco, no século XVIII. Nasceu e foi batizada na freguesia de Nossa Senhora do Rosário da vila de Penedo, comarca das Alagoas. Casando-se com Salvador Cardoso de Oliveira, sobrinho do capitão de campo Mathias Cardoso de Almeida, fixou residência em Brejo do Salgado, que se tornou, depois, distrito Brejo do Amparo, no município de Januária. Ali, ela se sentiu infeliz, porque não podia ver o rio, como era rotina em sua terra natal. Seu marido adquiriu, então, as terras Pedras de Baixo, rio acima, à margem direita do Velho Chico.

Maria da Cruz dedicou-se à instrução das pessoas, ensinando noções de higiene e direitos de cidadania, em escolas de música e leitura. Instalou teares de algodão, oficinas de couro, tendas de ferreiro e carpintaria para qualificar os jovens. Acolhia órfãos, enfermos e inválidos, promovia o casamento de amasiados e mantinha o culto à capela. Tendo ficado viúva ainda jovem com três filhos, assumiu os negócios agropastoris, fornecendo alimentos para a região da mineração. Conquistou a estima dos moradores e tornou-se líder contra os desmandos da Coroa, despertando aversão de prepostos da metrópole. Em 1736, ela e seu filho, Pedro Cardoso, foram denunciados como chefes das revoltas contra o tributo da captação, denominadas Motins do Sertão.

Eles consistiram de dois ataques por homens armados a São Romão, sede do governo regional, após ações bárbaras no percurso. Vários participantes da contestação conseguiram escapar, mas Maria da Cruz e Pedro Cardoso foram presos e transferidos para Vila Rica. Seguiram, posteriormente, para uma fortaleza, no Rio de Janeiro, e, após um ano, para Salvador. Julgados pelo Tribunal de Relação, em 1738, foram condenados ao degredo em Moçambique e à pesada multa. O rapaz nunca retornou da África. Maria da Cruz obteve, antes do embarque, o perdão do rei de Portugal, dom João V, e, alguns anos depois, pôde voltar para casa, onde faleceu em 1760.

Seu dinamismo e sua generosidade para proteger e instruir os desfavorecidos, no século XVIII, quando faltavam ações efetivas de políticas públicas, transformaram-na em heroína do sertão são-franciscano. A população reverencia sua memória. As terras que formavam Pedras de Baixo são, atualmente, o município de Pedras de Maria da Cruz.

O Estado de Minas Gerais vem celebrando, em Matias Cardoso, no dia 8 de dezembro, o Dia dos Gerais, obedecendo à Emenda Constitucional 21, promulgada em 2011. Isso inclui a condecoração de mulheres que tenham se destacado naquela região com a medalha Maria da Cruz, em homenagem à guerreira que viveu à frente de seu tempo.

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