GILDA DE CASTRO

Os afins e os riscos permanentes de conflito

Redação O Tempo


Publicado em 18 de março de 2017 | 03:00
 
 
 
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A mídia registra, frequentemente, rompimento traumático de uniões conjugais, gerando perplexidade quando há assassinato ou mesmo execução de filhos do casal; por isso, é importante analisar como a relação de afinidade implica risco de aversão profunda para que se busque uma solução pacífica antes de uma tragédia.

O casamento cria relações de afinidade e norteia, em seguida, relações de consanguinidade, tornando-se ponto de partida para a convivência de marido/mulher, sogros/nora ou genro, cunhados e padrasto/enteados (madrasta/enteados). Todas encerram alto potencial de conflito, porque as pessoas têm experiências distintas, enquanto se formam interesses político-econômicos sobre a prole e a infraestrutura material inerente à coabitação. As desavenças tornam-se acirradas quando há disputa por poder, turbulência na dimensão afetiva ou interferência no bem-estar do outro.

Em famílias extensas, o afim é o estranho que ameaça a harmonia entre pessoas do mesmo sangue. Embora haja rixa entre consanguíneos, a identidade orgânica dá coesão ao grupo para repelir ameaças externas e preservar os vínculos mais satisfatórios aos arranjos político-econômicos com outros segmentos sociais.

A família nuclear, predominante nas sociedades modernas, fundamenta-se no casamento por amor, em que homens e mulheres selecionam seus parceiros atendendo seus desejos pessoais. Eles preferem isolamento, que gera insegurança porque ambos estão distantes de parentes que lhes propiciem apoio incondicional em momentos de crise, especialmente em relação à prole. Os filhos sofrem bastante com o conflito, pois são consanguíneos, ao mesmo tempo, do pai e da mãe; portanto, há sólidos vínculos afetivos correndo paralelamente e jorrando de fontes antagônicas.

O divórcio existe justamente para regulamentar a separação de casais, quando a convivência torna-se insuportável. É sempre uma decisão difícil, porque o casal acreditou no afeto duradouro e no companheirismo incondicional. Ressentimentos são expressos, nas Varas de Família, com versões divergentes sobre o cotidiano, a administração dos bens e as responsabilidades em relação à prole.

O desenlace é mais comum quando os enamorados decidiram pela união ignorando o desequilíbrio de renda, a etnia, o nível de instrução, a idade, a classe social, a religião, o prestígio profissional ou a orientação política. Há pressão da sociedade sobre os casais “anômalos”, porque ela elege o casamento como a instituição mais adequada para promover a legitimação da prole e transferência de riqueza para as novas gerações.

O fracasso da união é mais frequente quando o casal não participa do mesmo universo simbólico, pois não consegue dialogar, definir seus objetivos, decidir princípios para educação dos filhos e operar as atividades econômicas da sociedade conjugal. O potencial de conflito aumenta com a interferência dos pais de um deles, e o perdedor é, geralmente, a pessoa que tem condição político-econômica inferior.

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