GILDA DE CASTRO

Perdas no patrimônio cultural de Belo Horizonte

Redação O Tempo


Publicado em 16 de maio de 2015 | 03:00
 
 
 
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A construção de Belo Horizonte para ser a capital de Minas Gerais marcou sua história, pois a utilização do espaço estava programada dentro do espírito republicano que rompia com o passado imperial e organizava a sociedade a partir de paradigmas positivistas. Todas as edificações teriam alto padrão arquitetônico, pois os idealizadores pretendiam que a cidade abrigasse o funcionalismo estadual com bastante conforto. O projeto não previa, entretanto, uma área para a classe trabalhadora, formada por pedreiros, marceneiros, cozinheiros, jardineiros, serventes e muitos outros oficiais que integram o sistema produtivo de qualquer sociedade complexa. Esse grupo precisou, então, improvisar sua moradia em trechos inóspitos, despertando a aversão da vizinhança ou dos proprietários dos terrenos.

Essa alocação alheia à proposta original indicava que a sociedade não se sujeitaria ao projeto autoritário e faria sua própria história, adaptando seus desejos às disponibilidades físicas, definindo os rumos da economia e respondendo soberanamente às determinações oficiais. A cidade ganhou, então, vida própria, mas tornou-se presa fácil da especulação imobiliária. Isso desaguou na demolição de edificações públicas e particulares, construídas poucos anos antes, para erigir arranha-céus sem considerar seu passado recente e o harmonioso conjunto arquitetônico iniciado em 1894, como a sequência residencial da elegante rua da Bahia.

O livro “Bello Horizonte Bilhete Postal – Coleção Otávio Dias Filho”, publicado pela Fundação João Pinheiro em 1997, apresenta belas imagens do patrimônio arquitetônico das primeiras décadas, citando muitas perdas antes do centenário da cidade. Isso está registrado também na obra do Iepha “Dicionário Biográfico de Construtores e Artistas de Belo Horizonte – 1894/1940”, lançada no mesmo ano.

Houve, portanto, aqui, desde o início, uma modernização sem limites pela demolição de edificações belíssimas, que formariam, hoje, um conjunto singular no cenário mundial, como o centro de Paris, Roma ou Florença. A subjetividade da avaliação patrimonial inerente ao capitalismo garantiria aos proprietários valores superiores a uma casa unifamiliar sobre, por exemplo, um prédio de cinco andares.

A perda mais significativa foi o Palacete dos Correios, construído na avenida Afonso Pena, entre as ruas Tamoios e Bahia, em 1905, e demolido em 1940 para edificar o Sulacap, destituído de beleza e que se tornou obsoleto.

A história de uma cidade não se faz apenas com documentos ou lembranças pessoais, mas também com a sua arquitetura. Vamos esperar que essa tese assegure a preservação de todos os palacetes da praça da Liberdade, das edificações sacras, do Instituto de Educação, do Conservatório Mineiro de Música, da Maternidade Hilda Brandão, da sede do Corpo de Bombeiros, da Escola Estadual Pedro II, do Minascentro e de várias residências em diferentes pontos da cidade.

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